Não entre no blog nem o leia esperando lições de teologia vindas de um teólogo. Não sou teólogo. Estou mais para um maltrapilho, daqueles amados por Aba (se bem que acho que Deus ama todos os maltrapilhos, de alguma forma), cuja insistência por encontrar Deus nas diversidades da vida não se cansa e não se contunde.



Este blog é um lugar pessoal, um lugar exclusivo; não escrevo para nenhum terceiro. Escrevo para Aba e para mim. Minha contradição, minha loucura, por enquanto, que fiquem comigo; e enquanto Aba tiver prazer neste louco maltrapilho, assim quero permanecer.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Viver sem muletas

Confiança é nossa dádiva que devolvemos a Deus. Ele a considera tão maravilhosa que Jesus morreu por amor a ela. (Brennan Manning)

Lendo um dos livros de Charles Swindoll, sobre o rei Davi, aprendi algumas lições importantes das quais quero falar aqui. Sempre que leio a história do rei Davi (e não somente dele, mas da maioria dos heróis da fé do Velho Testamento), percebo uma grande trajetória ou um longo caminho que este percorreu até chegar onde chegou ou ser o que foi.
Davi era um simples pastor de ovelhas até que um homem de Deus, chamado Samuel, profeta e juiz, interfere na vida de Davi, ungindo-o rei sobre Israel. A partir daí, parece que a vida desse rapaz, Davi, nunca mais foi a mesma. Davi, mesmo sendo ungido rei sobre Israel, não tirou proveito disso e continuou cuidando das ovelhas de sua casa.
O jovem Davi não deixou de cuidar das ovelhas de seu pai, mas permaneceu fiel em seu serviço de pastor. Talvez Deus tenha visto essa fidelidade do coração de Davi junto de sua humildade ao não tirar proveito de ser ungido rei sobre Israel.
Quando o Espírito do Senhor Se retirou de Saul e um espírito maligno passou a atormentá-lo (1 Sm 16.14), este chamou a Davi para que dedilhasse sua harpa para que o mesmo espírito maligno se retirasse dele. Sempre que Saul se achava atormentado, Davi dedilhava sua harpa, o espírito se retirava e Saul ficava em paz novamente.
Foi aí que Davi achou graça diante de Saul, que o amou e o fez seu escudeiro (1 Sm 16.21-22); e mesmo servindo ao rei, Davi permaneceu fiel cuidando das ovelhas de seu pai (1 Sm 17.15).
Já no campo de batalha, estavam os soldados de Israel e os soldados filisteus; até que apareceu um gigante do lado filisteu, chamado Golias, de Gate, e este começou a afrontar o povo de Israel e o seu Deus. Davi então enfrentou o gigante Golias e com uma funda e uma pedra o matou; após tal vitória, ele se apresentou diante do rei Saul que o colocou em uma boa posição: comandante sobre tropas do seu exército.
O jovem era benquisto de todo o povo e até dos próprios servos de Saul (1 Sm 18.5). Davi também ganhou a amizade e a confiança de Jônatas, filho do rei (1 Sm 18.1-4). Além de conseguir uma posição de prestígio e a amizade de Jônatas, Davi se casou com a filha de Saul, Mical (1 Sm.20-21b). O Senhor estava com Davi (1 Sm 18.14).
Saul, porém, temia a Davi e tinha intenção de matá-lo; até então, isso se limitava apenas a mandar Davi para o campo de batalha a guerrear com os filisteus, para que este fosse morto (1 Sm 18.17). Davi guerreava contra os filisteus e obtia grandes vitórias; isso até que o espírito maligno retornou sobre Saul que tentou cravar uma lança em Davi enquanto este dedilhava sua harpa diante do rei (1 Sm 19.9-10).

Porém Saul, na mesma noite em que tentou matar a Davi, mandou mensageiros à casa de Davi, que o vigiassem, para ele o matar pela manhã; disto soube Davi por Mical, sua mulher, que lhe disse: Se não salvares a tua vida esta noite, amanhã serás morto. Então Mical desceu Davi por uma janela; e ele se foi, fugiu e escapou. (1 Sm 19.11-12)

A partir daí começa uma nova etapa na vida de Davi e é sobre esta etapa que quero falar. É nesse ponto que entendi, através de Charles Swindoll, que temos muletas as quais precisamos deixar. Davi tinha suas muletas e é nessa nova etapa que Deus começa a remover suas muletas.
Muleta é objeto de apoio; quando temos dificuldades de andar, é nelas que nos apoiamos. Davi tinha suas muletas; nós temos nossas muletas. Como disse, nessa etapa Deus começa a remover as muletas de Davi.
A primeira muleta que Davi perdeu foi uma boa posição. Ele tinha conquistado Saul que o colocou como comandante de tropas de seu exército; no entanto, nessa nova etapa, essa posição estava perdida por causa de uma lança com a qual Saul tentou matá-lo.
Segunda muleta perdida por Davi foi quando este perdeu sua esposa, Mical. Ele fugiu de Saul e foi encontrar-se com sua esposa, a qual o livrou quando o desceu por uma janela para que fugisse (1 Sm 19.11-12); porém quando seu pai a enfrentou, ela mentiu dizendo que Davi a ameaçou de morte se não o deixasse fugir (1 Sm 19.17), ou seja, ela se afastou de Davi e a sua mentira não o ajudou e sim fez com que a raiva de seu pai aumentasse.
Davi fugiu de Saul e foi ter com Samuel, em Ramá, e lhe disse tudo o que Saul lhe fizera. Então, eles se retiraram e para ficarem na casa dos profetas (1 Sm 19.18). No entanto, alguém informou o rei sobre o lugar onde Davi estava e com isso, ele precisou fugir de lá também. Davi fugiu da casa dos profetas e foi ter com Jônatas (1 Sl 19.18-20.1), seu amigo e filho de Saul. Nesse processo, Davi perdeu sua terceira muleta, Samuel.
Ele se encontrou com Jônatas e o comunicou a respeito de tudo o que seu pai o fizera. Jônatas ficou surpreso, pois seu pai não fazia nada sem antes lhe comunicar; porém, Davi tinha certeza que Saul sabia a respeito da amizade dos dois e por isso escondera tudo de seu filho. Jônatas e Davi planejam uma forma de descobrir o motivo de tudo o que estava acontecendo e também uma forma de Jônatas comunicá-lo a respeito disso (leia o 1 Sm 20).
Acontece que Saul se ira com Jônatas por causa de Davi e nisso o jovem Davi precisa se despedir de seu amigo. Aqui, ele perdeu sua quarta muleta.
Como quem não tinha mais saída entre seus amigos, Davi foi procurar apoio no meio de seus inimigos, os inimigos do rei Saul e do povo de Israel. Davi pensou que se ele estive com os inimigos de Saul (já que este o via dessa forma, agora), então ficaria livre da perseguição do rei. Mas em certo ponto, os filisteus desconfiaram de Davi e esta quinta e última muleta ele também perde.
Lendo os escritos de Charles Swindoll aprendi com essa lição da vida de Davi. Deus trabalhou em sua vida e removeu todas as suas muletas, de forma que este encontrasse apoio apenas no Rei e Deus de Israel, seu povo. Agora, olhe para sua vida e veja no que você tem se apoiado. Quais são suas muletas? Você tem confiado em Deus mais do que qualquer uma delas?
As muletas nada mais são do que substitutos de Deus e na vida de um cristão, não pode haver muletas no lugar de Deus. Confiar em Deus e se apoiar no Deus invisível não é fácil, requer muita coragem; talvez coragem seja a palavra que mais combina com confiança. Coragem para confiar sem medida em Deus e nisso permanecer fiel.
Assim como Swindoll terminou seu capítulo com uma oração de A. W. Tozer, apresentada em seu livro À Procura de Deus, capítulo 2, eu quero terminar com a mesma:

“Pai, desejo conhecer-Te, mas meu coração covarde teme desistir de seus brinquedos [ou muletas*]. Não posso desfazer-me deles sem sangrar por dentro, e não procuro esconder de Ti o terror da separação. Vendo tremendo, mas venho. Por favor, extirpa do meu coração todas aquelas coisas que estou amando há tanto tempo, e que se têm tornado parte integrante deste “viver para mim mesmo”, a fim de que Tu possas entrar e habitar ali sem qualquer rival. Então tornarás glorioso o estrado dos Teus pés. Meu coração não terá mais necessidade da luz do sol, porquanto Tu mesmo serás o seu sol iluminador, e ali não haverá mais noite, em nome de Jesus. Amém.”