Não entre no blog nem o leia esperando lições de teologia vindas de um teólogo. Não sou teólogo. Estou mais para um maltrapilho, daqueles amados por Aba (se bem que acho que Deus ama todos os maltrapilhos, de alguma forma), cuja insistência por encontrar Deus nas diversidades da vida não se cansa e não se contunde.



Este blog é um lugar pessoal, um lugar exclusivo; não escrevo para nenhum terceiro. Escrevo para Aba e para mim. Minha contradição, minha loucura, por enquanto, que fiquem comigo; e enquanto Aba tiver prazer neste louco maltrapilho, assim quero permanecer.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Cristianismo e Falsa Religiosidade

A religião pura e sem mácula para com o nosso Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se incontaminado do mundo. (Tg 1.27)

As pessoas vão às igrejas, ouvem a palavra maravilhosa do pregador e quando este faz o apelo, elas vão a frente de todos, fazem uma oração e pronto, já são convertidas (pois aceitaram e confessaram Jesus como Único Senhor e Salvador de suas vidas) e já estão salvas. Porém, com o tempo tudo volta a ser como antes daquele momento. Muitos após, o batismo, abandonam a igreja e a comunhão dos irmãos voltando para suas vidas desregradas, cheia de vícios e de um vazio descomunal.
Gostaria de entender o porquê isso acontece tanto no meio do povo de Deus. As pessoas chegam e vão embora e parece que nada acontece naqueles que estão ao redor ou nessas pessoas em si. Parece que as pessoas não conseguem vislumbrar a verdadeira religião, o verdadeiro Cristo que é capaz de religar a humanidade a Deus.
Sem dúvida alguma, a verdadeira religião ou Cristianismo está fundamentado numa experiência pessoal e real com o próprio Cristo ressurreto. Ele te chama, pela Sua escandalosa graça, e você então O encontra. Ele te recebe (não te aceita, mas te recebe) e então o Seu Espírito Santo começa a marcar, transformar e mexer com sua vida e estrutura.
O Espírito Santo age diariamente na vida dos Filhos de Deus, pois estes são guiados por Ele (Rm 8.14). É necessário sermos marcados por Deus; para isso, precisamos encontrá-lO e para encontrá-lO, precisamos procurar, ao menos. É necessário dependência de Deus.
Cristianismo vem nos falar de Cristo. Ele é o Foco. Ele é a Base. Sua vida e Suas verdades, ditas, são aquilo em que devemos, como cristãos, nos apoiar. Cristão tem a ver com “pequenos cristos” ou pessoas que lembrem Cristo, que apontem para Ele. Cristão é uma identidade e identidade não tem a ver com apenas palavras, falatório vão, mas com o que realmente somos.
Olhe para suas digitais. Elas falam quem é você. Apenas pelo rastro delas, pela marca que fica onde você toca, onde você coloca suas mãos, é possível descobrir que você esteve e fez algo. É isso! Quando pensamos em mãos, pensamos em feitos, em obras. O que você faz tem tudo a ver com sua identidade. É perceptível. É visível. O que você faz tem a ver com sua identidade e não o que você fala. Talvez por isso Tiago tenha escrito: “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” (Tg 1.19b) Tiago prossegue:

Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural, pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. (Tg 1.21-23)

Tiago nos diz para estarmos prontos para ouvir e depois ele nos diz para não somente ouvirmos, mas praticarmos. Quando ouvimos, não há dúvida de que a palavra que ouvimos entra em nós, por mais que não caia em nosso coração ou nos marque de imediato. Precisamos ouvir a palavra de Deus (a fé vem pelo ouvir – Rm 10.17) e então praticá-la, porque o que fazemos tem a ver com o que somos.
Quando somos apenas ouvintes, nos assemelhamos ao homem que se contempla no espelho e se retira e logo não se lembra de sua aparência. Ele apenas ouvi, nada faz, nada pratica, não se recorda de quem ele é. Podemos concluir que o praticante é o contrário. Ele sabe quem ele é, ou ele se recorda de sua aparência, pois não é apenas ouvinte. A prática está diretamente ligada ao que somos e vice-versa.
Cristianismo é isso. Nós encontramos Jesus, a Palavra e o Seu Espírito em nós, junto com a palavra e, creio ser necessário, o Corpo ou o sangue (as três testemunhas que testificam na terra, o Espírito, a água e o sangue - 1 Jo 5.8) e isso transforma a nossa vida. Nosso pensamento muda, se renova, e por conseqüência nossas atitudes são diferentes, também marcadas pelo Espírito. Jesus, então, é percebido em nós. O Seu perfume, a Sua Pessoa e Sua Vida.

Mas, aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.
Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. (Tg 1.25-26)

Precisamos cuidar de nossa língua irmãos, para não falarmos a nosso respeito mais do que somos, não nos vangloriarmos do que não somos capazes de fazer. É um engano pensar que podemos ser cristãos e sermos independentes. Maldita independência! Queremos ser autônomos e fazermos as coisas por nós mesmos, sem Deus e sem as pessoas. Não tem como! Falsa religiosidade é isso – dizermos muito mais de nós do que realmente somos. Assim, nos enganamos.
Volto a dizer que Cristianismo tem a ver com o que realmente somos e não com o que fazemos; e falsa religiosidade nos impulsiona a fazermos ou dizermos aquilo que não somos. Não é algo natural, que parte de dentro de nós, mas é algo exterior. São atitudes que tomamos para parecermos algo que somos, para parecermos espirituais.
Os fariseus eram assim. “Eu não sou como esse pecador”, diziam e diziam o que não eram. Enganavam-se. Experimentar da verdadeira religião que nos move para Deus e para os outros, suas necessidades, é caminho de graça. Dom de Deus! É verdadeiro Jejum (Is 58.6-7).
O ser cristão nos leva a ter atitudes de cristão. O ser nos leva ao fazer. O encontro com Deus e Sua graça e Seu Espírito agindo em nosso íntimo diariamente nos leva a fazer coisas para Ele e os outros. Só somos capazes de negar a nossa carne e morrer para nós mesmos através desse agir. Chega de independência, irmão! Chega de falsa religiosidade!

E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na Sua Própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2 Co 3.18)

E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido, outrora, não me interessa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me acrescentaram; (Gl 2.6)