A religião pura e sem mácula para com o nosso Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se incontaminado do mundo. (Tg 1.27)
As pessoas vão às igrejas, ouvem a palavra maravilhosa do pregador e quando este faz o apelo, elas vão a frente de todos, fazem uma oração e pronto, já são convertidas (pois aceitaram e confessaram Jesus como Único Senhor e Salvador de suas vidas) e já estão salvas. Porém, com o tempo tudo volta a ser como antes daquele momento. Muitos após, o batismo, abandonam a igreja e a comunhão dos irmãos voltando para suas vidas desregradas, cheia de vícios e de um vazio descomunal.
Gostaria de entender o porquê isso acontece tanto no meio do povo de Deus. As pessoas chegam e vão embora e parece que nada acontece naqueles que estão ao redor ou nessas pessoas em si. Parece que as pessoas não conseguem vislumbrar a verdadeira religião, o verdadeiro Cristo que é capaz de religar a humanidade a Deus.
Sem dúvida alguma, a verdadeira religião ou Cristianismo está fundamentado numa experiência pessoal e real com o próprio Cristo ressurreto. Ele te chama, pela Sua escandalosa graça, e você então O encontra. Ele te recebe (não te aceita, mas te recebe) e então o Seu Espírito Santo começa a marcar, transformar e mexer com sua vida e estrutura.
O Espírito Santo age diariamente na vida dos Filhos de Deus, pois estes são guiados por Ele (Rm 8.14). É necessário sermos marcados por Deus; para isso, precisamos encontrá-lO e para encontrá-lO, precisamos procurar, ao menos. É necessário dependência de Deus.
Cristianismo vem nos falar de Cristo. Ele é o Foco. Ele é a Base. Sua vida e Suas verdades, ditas, são aquilo em que devemos, como cristãos, nos apoiar. Cristão tem a ver com “pequenos cristos” ou pessoas que lembrem Cristo, que apontem para Ele. Cristão é uma identidade e identidade não tem a ver com apenas palavras, falatório vão, mas com o que realmente somos.
Olhe para suas digitais. Elas falam quem é você. Apenas pelo rastro delas, pela marca que fica onde você toca, onde você coloca suas mãos, é possível descobrir que você esteve e fez algo. É isso! Quando pensamos em mãos, pensamos em feitos, em obras. O que você faz tem tudo a ver com sua identidade. É perceptível. É visível. O que você faz tem a ver com sua identidade e não o que você fala. Talvez por isso Tiago tenha escrito: “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” (Tg 1.19b) Tiago prossegue:
Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.
Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural, pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. (Tg 1.21-23)
Tiago nos diz para estarmos prontos para ouvir e depois ele nos diz para não somente ouvirmos, mas praticarmos. Quando ouvimos, não há dúvida de que a palavra que ouvimos entra em nós, por mais que não caia em nosso coração ou nos marque de imediato. Precisamos ouvir a palavra de Deus (a fé vem pelo ouvir – Rm 10.17) e então praticá-la, porque o que fazemos tem a ver com o que somos.
Quando somos apenas ouvintes, nos assemelhamos ao homem que se contempla no espelho e se retira e logo não se lembra de sua aparência. Ele apenas ouvi, nada faz, nada pratica, não se recorda de quem ele é. Podemos concluir que o praticante é o contrário. Ele sabe quem ele é, ou ele se recorda de sua aparência, pois não é apenas ouvinte. A prática está diretamente ligada ao que somos e vice-versa.
Cristianismo é isso. Nós encontramos Jesus, a Palavra e o Seu Espírito em nós, junto com a palavra e, creio ser necessário, o Corpo ou o sangue (as três testemunhas que testificam na terra, o Espírito, a água e o sangue - 1 Jo 5.8) e isso transforma a nossa vida. Nosso pensamento muda, se renova, e por conseqüência nossas atitudes são diferentes, também marcadas pelo Espírito. Jesus, então, é percebido em nós. O Seu perfume, a Sua Pessoa e Sua Vida.
Mas, aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.
Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. (Tg 1.25-26)
Precisamos cuidar de nossa língua irmãos, para não falarmos a nosso respeito mais do que somos, não nos vangloriarmos do que não somos capazes de fazer. É um engano pensar que podemos ser cristãos e sermos independentes. Maldita independência! Queremos ser autônomos e fazermos as coisas por nós mesmos, sem Deus e sem as pessoas. Não tem como! Falsa religiosidade é isso – dizermos muito mais de nós do que realmente somos. Assim, nos enganamos.
Volto a dizer que Cristianismo tem a ver com o que realmente somos e não com o que fazemos; e falsa religiosidade nos impulsiona a fazermos ou dizermos aquilo que não somos. Não é algo natural, que parte de dentro de nós, mas é algo exterior. São atitudes que tomamos para parecermos algo que somos, para parecermos espirituais.
Os fariseus eram assim. “Eu não sou como esse pecador”, diziam e diziam o que não eram. Enganavam-se. Experimentar da verdadeira religião que nos move para Deus e para os outros, suas necessidades, é caminho de graça. Dom de Deus! É verdadeiro Jejum (Is 58.6-7).
O ser cristão nos leva a ter atitudes de cristão. O ser nos leva ao fazer. O encontro com Deus e Sua graça e Seu Espírito agindo em nosso íntimo diariamente nos leva a fazer coisas para Ele e os outros. Só somos capazes de negar a nossa carne e morrer para nós mesmos através desse agir. Chega de independência, irmão! Chega de falsa religiosidade!
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na Sua Própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2 Co 3.18)
E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido, outrora, não me interessa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me acrescentaram; (Gl 2.6)