Não entre no blog nem o leia esperando lições de teologia vindas de um teólogo. Não sou teólogo. Estou mais para um maltrapilho, daqueles amados por Aba (se bem que acho que Deus ama todos os maltrapilhos, de alguma forma), cuja insistência por encontrar Deus nas diversidades da vida não se cansa e não se contunde.



Este blog é um lugar pessoal, um lugar exclusivo; não escrevo para nenhum terceiro. Escrevo para Aba e para mim. Minha contradição, minha loucura, por enquanto, que fiquem comigo; e enquanto Aba tiver prazer neste louco maltrapilho, assim quero permanecer.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

David Brainerd

Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. (2 Co 12.15a)

Um jovem, de aparência fraca, franzino de corpo, frágil, mas em que seu interior ardia o fogo do amor por Deus e pelas almas. Orlando Boyer, em seu livro Heróis da Fé, apresenta uma cena da história desse jovem, que me marcou profundamente:

[...] encontrou-se na floresta, para ele desconhecida. Era tarde e o sol já declinava até quase desaparecer no horizonte, quando o viajante, enfadado da longa viagem, avistou a fumaça das fogueiras dos índios peles-vermelhas. Depois de apear e amarrar seu cavalo, deitou-se no chão para passar a noite, agonizando em oração. Sem ele o saber, alguns dos silvícolas o haviam seguido silenciosamente, como serpentes, durante a tarde. Agora estacionavam atrás dos troncos das árvores para contemplar a cena misteriosa de um vulto de cara pálida, sozinho, prostrado no chão clamando a Deus.

Nesse momento de sua vida, David Brainerd, se coloca diante de Deus, agonizando em oração pelos selvagens que o seguiam e que estavam na aldeia. Ele agoniza, transpira morte, enquanto intercede pela vida dos índios peles-vermelhas. Fico profundamente marcado com a vida desse jovem, em seu derramar de si mesmo no altar de Deus pelas almas.
Agonizar implica em ânsia de morte, estar moribundo ou a acabar, estar morrendo. Estar diante de Deus em oração e intercessão, agonizando? Como pode ser isso? Esse é um dos motivos porque a vida desse jovem me marca profundamente.
“Oh! Uma hora com Deus excede infinitamente todos os prazeres do mundo”, dizia David Brainerd. Esse jovem era um homem de oração; que não media limites nem perdas para estar mais próximo de Deus, mais inclinado no peito do Filho. Mesmo estando desanimado, em certo momento, mas experimentou do “Grande Avivamento” dessa época que tinha alcançado a cidade de New Haven, onde David estudava.
O avivamento alcançou seu coração e sua dedicação aumentou ainda mais. Aumentou porque mesmo antes, ele assim como muitos dos outros heróis da fé que o antecederam e precederam, cria nas boas obras. Dedicava-se a oração e meditação na Palavra, como parte dessas boas obras. Após o avivamento ter alcançado seu coração, o que David mais queria era estar pronto para o ministério.

“Passei o dia em jejum e oração, implorando que Deus me preparasse para o ministério, me concedesse auxílio divino e direção, e me enviasse para a seara no dia designado por Ele.”

Sua dedicação a Deus e desejo de ser usado e fazer Sua obra são totalmente admiráveis. Seu desejo era o de ver a salvação daqueles selvagens, os quais Orlando Boyer afirma que eram silvícolas violentos. De acordo com Boyer, Deus concede a Brainerd a entrada no meio desse povo, de forma hospitaleira, após ele se derramar em meio em oração pela vida desses índios.
Ele queria entrar no meio deles, pregar, falar da salvação em Cristo. Brainerd amou este povo, de forma a me lembrar da vida do profeta Jeremias, que amava o seu povo – “Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo.” (Jr 9.1).

“Assim, passei a tarde orando incessantemente, pedindo o auxílio divino para que eu não confiasse em mim mesmo. O que experimentei, enquanto orava, foi maravilhoso, parecia-me que não havia nada de importância em mim, a não ser a santidade de coração e vida, e o anelo pela conversão dos pagãos a Deus.”

E ainda...

“Passei a maior parte do dia em oração, pedindo que o Espírito fosse derramado sobre o meu povo... Orei e louvei com grande ousadia, sentindo grande peso pela salvação das preciosas almas.”

De fato, aquele era o seu povo e por eles ele se dedicou a Deus. Orou. Jejuou. Pregou e instou a Palavra de Deus “a tempo e fora de tempo”. Não confiou em si mesmo, antes se entregava em confiança no auxílio divino. Mesmo estando para se casar com a filha de Jonathan Edwards, não parou de se dedicar a esta causa. Andava inúmeras vezes perdido na noite, tomando chuva e passando por florestas e pântanos. Outras inúmeras vezes ficava debaixo do sol quente, atravessando montanhas. Passou frio. Por vários dias, passava fome.
Sua saúde já estava abalada, mas ainda assim não hesitou. Antes resolveu “arder até o fim” em dedicação, em agonia e compaixão pela vida dos índios.

“Adeus, amigos e confortos terrestres, mesmo os mais anelados de todos. Se o Senhor quiser, gastarei a minha vida, até os últimos momentos, em cavernas e covas da terra, se isso servir para o progresso do reino de Cristo.”

“Continuarei lutando com Deus em oração pelo rebanho aqui e, especialmente, pelos índios em outros lugares, até a hora de deitar-me. Oh! Como senti ser obrigado a gastar o tempo dormindo! Anelava ser uma chama de fogo, constantemente ardendo no serviço divino e edificando o reino de Deus, até o último momento, o momento de morrer”

Suas forças já estavam totalmente esgotas e ele apenas esperava pelo Senhor, para que o levasse. Em seu leito, ao ver alguém se aproximar com as Sagradas Escrituras, exclamou: “Oh! O querido Livro! Breve hei de vê-lo aberto. Os seus mistérios me serão então desvendados!”.
E ainda assim, esse jovem admirável, foi capaz de escrever para o seu irmão Israel Brainerd: “Digo, agora, morrendo, que não teria gasto a minha vida de outra forma, nem por tudo o que há no mundo”. Sua dedicação, devoção e compaixão é o que nós, jovens, precisamos para os dias de hoje.