Não entre no blog nem o leia esperando lições de teologia vindas de um teólogo. Não sou teólogo. Estou mais para um maltrapilho, daqueles amados por Aba (se bem que acho que Deus ama todos os maltrapilhos, de alguma forma), cuja insistência por encontrar Deus nas diversidades da vida não se cansa e não se contunde.



Este blog é um lugar pessoal, um lugar exclusivo; não escrevo para nenhum terceiro. Escrevo para Aba e para mim. Minha contradição, minha loucura, por enquanto, que fiquem comigo; e enquanto Aba tiver prazer neste louco maltrapilho, assim quero permanecer.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A Igreja não vive para si mesma

E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou.
(2 Co 5.15)

A Igreja não é uma organização nem tampouco fruto da religião dos homens. Ela é um organismo vivo, como Corpo de Cristo, e se torna real por meio da morte e ressurreição de Cristo que é capaz de religar (ou restaurar a ligação do Criador com as criaturas) a humanidade a Deus. Essa é uma realidade do Corpo de Cristo.
Mas o ponto em que quero chegar é que a Igreja não vive para si mesma. Cristo morreu crucificado por toda a humanidade para que nós não vivamos mais para nós mesmos, mas para Ele. Foi Ele Quem morreu e ressuscitou para isso; foi Ele Quem nos comprou com um preço extremamente alto: preço de sangue!
Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes no livro de Apocalipse entoam um cântico dizendo: “Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o Teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação [...]” (Ap 5.9). Isso para vermos que não foi com qualquer coisa que o Senhor nos comprou; foi com o Seu próprio sangue. Dando Sua própria vida, pois o sangue fala de vida (Lv 17.11).
E Cristo nos comprou com Seu sangue para sermos Dele. Por isso não vivemos mais para nós mesmos. Por isso encontramos liberdade da lei do pecado e da morte. Não somos mais escravos de nosso próprio ventre, pois fomos comprados com esse sangue. E agora estamos em Cristo; não vivemos mais para nós mesmos. Por isso o apóstolo Paulo continua:

E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. (2 Co 5.17)

Mas, irmãos, se nós não acreditarmos nessas coisas nem no sangue do Filho de Deus, com certeza continuaremos em nosso caminho torto, como pessoas tortas que éramos (ou somos). A humanidade é falida e por isso não tinha como pagar o preço pela suas transgressões, pelos seus pecados; e com isso aprouve a Deus pagar o preço. Ele nos queria (e nos quer para Si); por isso o Cordeiro nos comprou para Deus.

Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou Consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. (2 Co 5.18-19)

O apóstolo Paulo entendeu esse mistério. Fomos comprados e agora não pertencemos mais a nós mesmos. Paulo, em 2 Coríntios, no capítulo 6, escreve a respeito de sua abnegação. Ele desistiu de viver para si mesmo; ele entendeu que foi comprado e agora é escravo de Cristo, por amor, voluntário. Agora ele pertence a Cristo.
O único direito que temos agora é o de não ter direito algum; importa que Cristo apareça; importa que Ele cresça; importa que o Reino de Deus ganhe. Isso é abnegação; é desistir de ter algo nesse mundo para ter algo nos céus; para ser conhecido nos céus.
É como aquele homem que achou um tesouro escondido em um campo e o escondeu. Foi, transbordando de alegria, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo (Mt 13.44). Ou ainda como um negociador em busca de boas pérolas, e achando uma de grande valor, vendeu tudo o que tinha e a comprou (Mt 13.45-46).
Quando entendemos essa verdade do Reino de Deus, da vida cristã (e acho que não depende de nós entendermos, mas do agir do Espírito Santo) de que fomos comprados e nada nessa terra se compara a isso, de que, sem Deus, não encontraremos nada de importante nesse mundo em que somos peregrinos, então deixaremos de ser tão materialistas, tão apegados as coisas dessa terra e de procurar uma prosperidade (aquela que tem sido pregada) que, contrário do que pensam e pregam, não nos aproxima de Deus.

Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do Corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, Aquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que frutifiquemos para Deus. (Rm 7.4)

Mas Cristo não só morreu para que fossemos Dele. Se Ele morresse para sermos Dele e não ressuscitasse, não seríamos Dele, entende? Ele precisava estar vivo para nos receber e tomar de volta aquilo que era Seu desde o princípio. Com isso, podemos entender porque Paulo tanto na carta aos coríntios como na carta aos romanos fala da ressurreição.
Cristo morreu para nos comprar. Pagou preço de sangue. E Ele ressuscitou para nos ter. A Igreja não vive para si mesma, mas para Aquele que a comprou e por ela ressuscitou. A Igreja não foi comprada para ser uma instituição, mas para ser um organismo vivo, como Corpo do próprio Cristo e, assim, dar muitos frutos para Deus.

Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em Mim fará também as obras que Eu faço e outras maiores fará, porque Eu vou para junto do Pai. (Jo 14. 12)

Creiamos nisso, irmão. Isso é uma verdade do Reino e pode ser realidade nos dias de hoje!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A Igreja é formada por todo tipo de pessoa

Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de Adulão; quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu Pai, desceram ali para ter com ele. Ajuntaram-se a ele todos os homens em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens.
(1 Sm 22.1-2)

Primeiro vimos que a Igreja de Cristo é formada por pessoas. Agora digo que ela é formada por pessoas de todo tipo. Não há acepção de pessoas. Não há diferença doutrinária. Não há raça, time, língua. São pessoas diferentes, cuja vida está embasada em Cristo e Nele somente, e que foram alcançadas pela obra maravilhosa da graça, misericórdia, perdão e salvação de Deus.
Não são pessoas simplesmente perfeitas, afinal os são não precisam de médico e sim os doentes. Então espere receber pessoas cujas almas estão enfermas, pessoas que estão procurando pelo socorro de Cristo, famintas do Pão da Vida.
A história de Davi na caverna de Adulão me impacta e me faz pensar na Igreja. Fala de um momento difícil para Davi, fugindo do rei Saul. Nesse momento ele se refugia em uma caverna e lá Deus ajunta todo tipo de pessoa. Eram homens endividados, fugitivos como Davi, passando por aperto, homens amargurados em seus espíritos. Desses homens, que talvez muitos não dessem nada, Deus levantou um grande exército para Davi e seu reino.
Eu creio que a Igreja de Cristo é assim. Não há acepção de pessoas. São os piores. Aqueles que ninguém dá nada para eles. Pessoas com problemas pessoais, enfermas, angustiadas, frustradas, decepcionadas, falidas; e tem aqueles que foram bem-sucedidos no que fizeram; mas que se tornam iguais diante de Deus e Sua graça. Pessoas que reconhecem o quão miseráveis são.
É como Paulo declara em sua carta aos Romanos: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Assim como eles reconhecem isso, também são capazes de declarar o que Paulo declara no versículo seguinte: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 7.25) Ou seja, sabem que tudo depende de Cristo, desde suas vidas e estruturas até o fato dos filhos de Deus se manifestarem ao mundo (Rm 8.19).
Penso na Igreja como um abrigo para pessoas imperfeitas, formada por pessoas imperfeitas que encontraram uma vida diferente em Cristo e cuja esperança está em Cristo e Nele somente, e com isso essas pessoas vão buscando e servindo as pessoas que necessitam de uma esperança, necessitam encontrar a graça, a verdade e o amor de Deus, revelados em Jesus e agora na Igreja. Por isso é preciso reconhecer, antes, sua própria miséria, para então conceder a graça que outrora fora recebida.

Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que Ele prometeu aos que O amam? (Tg 2.5)

“Não há acepção de pessoas” é algo muito forte para a Igreja hoje. Não podemos tratar as pessoas com diferença, não podemos rejeitar ninguém nem tampouco condenar alguém. Não podemos nem sequer tratá-las de qualquer forma; tanto os de fora quanto os de nossa casa ou os crentes em Cristo Jesus. Jesus não nos condena.
Parte da lei aponta e trata do tratamento que damos ao próximo. O sermão do monte e a própria vida de Jesus diz respeito ao tratamento que damos ao próximo. É sempre fonte de maior foco da parte de Deus o nosso tratar o próximo do que sermos tratados. Perdemos para o Reino de Deus ganhar. Deixamos de ganhar para que Jesus apareça.

Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo argüidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. (Tg 2.8-10)

Se guardamos o sábado, não adoramos imagens nem as construímos, não tomamos o nome de Jeová em vão, porém tratamos os nossos irmãos sem misericórdia e com desprezo, matamos, roubamos, cometemos adultério, deixamos de honrar os nossos pais (etc.), não nos tornamos transgressores dos primeiros mandamentos que dizem respeito ao meu relacionamento com Deus?

Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a Quem não vê. (1 Jo 4.20)

Espero que você comece a entender que não basta apenas nos trancarmos em nosso quarto e lermos, orarmos e cantarmos ao Senhor no secreto, ou irmos até a congregação e sem relacionamento algum com o nosso próximo buscarmos a Deus. Existe um mistério ou uma realidade espiritual muito forte que aponta para as pessoas. Se trato o Cristo em mim com reverência, temor e amor, mas o Cristo que está no meu irmão, trato de qualquer jeito, há algo de errado!Voltemos nossos olhos para o Senhor e seremos salvos de nossa mente fechada para esses mistérios do Reino de Deus. Não há possibilidade alguma de nos aproximarmos de Deus sem sentirmos essa realidade, pois ela vem nos falar do sentimento do próprio Deus de compaixão, graça e entrega pela vida do nosso próximo. Que o Senhor nos dê a graça de entendermos isso e dessas coisas se tornarem realidades em nosso íntimo. Amém.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A vida de Deus e a Bíblia

Levando em consideração que a revelação natural, que é o meio pelo qual Deus manifesta a Sua glória e alguns de Seus atributos nas coisas que foram criadas, não é suficiente para convencer o ser humano de sua necessidade de Deus e Seu perdão, me coloco a meditar e considerar algumas coisas, simples, acerca da Palavra de Deus, uma revelação especial.
A Bíblia é a Palavra de Deus escrita, e quando nos colocamos diante da Palavra escrita, estamos, assim como Elben Lenz considera em seu livro Praticas Devocionais, buscando o Senhor e precisamos fazer isso até encontrá-lO nas Sagradas Escrituras. Creio que é somente nessa busca, nesse agir do Espírito Santo, é que podemos experimentar da vida contida nos versículos e na história do povo narrada na Bíblia.
Uma vez dei um conselho, e repito: creio que não podemos ler a Bíblia sozinhos, e isso jamais. Temos que, sempre, convidar o Espírito Santo para ler conosco. Como disse acima, é por intermédio de um agir Dele em nosso interior que todas as palavras podem ser diferentes. Não tem como ser maçante, não tem como ser chato, quando vida jorra até nós, e essa vida só jorra até nós por intermédio do Espírito.

E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o Qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. (2 Co 3.4-6)

Preste atenção nesses versículos. A nossa confiança em Deus é por intermédio do Filho, não parte de nós. Nossa suficiência vem de Deus; é no agir de Seu Espírito em nós e nas Escrituras, que o nosso espírito será vivificado. A Palavra é algo muito espiritual. Não é mística, é espiritual, por causa dessa vida de Deus em nosso espírito, fluindo, brotando. Algo mais original no homem do que o próprio pecado.
Por essa vida do Espírito brotando em mim, quando leio as Escrituras e descubro e conheço Deus, que posso afirmar o quão apaixonante é ler a Bíblia. Escrever a seu respeito, lê-la, meditá-la, estudá-la.
Quero apresentar algumas poucas considerações a respeito das Sagradas Escrituras. Há muitas outras considerações e muito mais a ser dito a respeito da Palavra de Deus, mas quero apresentar apenas algumas considerações.
A Bíblia, como Palavra de Deus, nos serve de alimento. Quando Deus nos fala através de Sua Palavra, quando O encontramos nas Escrituras, então sem dúvida poderemos experimentar desse alimento espiritual. A experiência de Moisés e do povo de Israel (de Moisés com o povo e) com Deus, no deserto ensinou para ele essa lição:

Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem. (Dt 8.3)

Creio que como o maná era para o povo de Israel no deserto, a Bíblia (como Palavra de Deus e quando Deus fala aos homens através dela) é para os cristãos hoje. É um alimento que o próprio Deus conserva e conservou consoante a Sua vontade. É um alimento que precisamos diariamente, em qualquer lugar que estivermos e em qualquer coisa que nós fizermos, especialmente no deserto.
Não só de pão ou alimento natural viveremos, mas daquilo que o Senhor nos falar na Sua Palavra, através das pessoas ou de qualquer outra maneira. O povo precisou ser humilhado e ter fome para entender que eram importantes as coisas que o Senhor estava dando para eles no deserto: a lei do Senhor, que é perfeito e capaz de restaurar a alma do homem (Sl 19.7).
Digo também que a Palavra do Senhor nos serve de apoio para as situações adversas. Assim como os discípulos, quando não pescaram nada no lago de Genesaré (Gn 5.1), mesmo depois de estarem lá durante toda a noite (Gn 5.5), mediante a palavra do Senhor, relançaram as redes ao mar de forma que essas se rompiam de tantos peixes (Gn 5.5-6).
A pesca não foi boa. Na verdade não houve pesca nenhuma. Os discípulos não pegaram nada. Mas, ao ouvir o Senhor dizer “Faze-te ao lago, e lançai as vossas redes para pescar”, obedeceram a diante de uma situação adversa, de aparente fracasso, obtiveram sucesso.
Talvez o nosso Senhor quisesse ensinar aos Seus discípulos aquilo que aprendeu: que não só de pão viverá o homem, mas de toda Palavra que procede de Deus. Logo depois dessa pesca maravilhosa, os discípulos deixaram tudo e seguiram Jesus. Tinha algo mais que o Senhor lhes ensinaria que precisariam de Sua Pessoa, também, pois como Jesus disse: “sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5).
Tenho entendido algo a respeito dessas coisas. É sempre muito bonito dizermos que a Bíblia é suficiente para o homem, como eu mesmo já disse uma vez. Na verdade, não é. Quando Deus fala através da Bíblia, nos dá do maná, ela é alimento para o homem, porém não é suficiente.
Precisamos da Palavra, e a temos; precisamos do Espírito, e podemos tê-lO; mas precisamos do sangue. O sangue vem falar do Corpo de Cristo, das pessoas. Como Ed René Kivitz disse uma vez, as Escrituras podem nos trazer conhecimento, mas não crescimento. Por si só, ela não traz vida, como já foi dito. Precisamos do Espírito e das pessoas. Nós só podemos ter crescimento em Deus através de relacionamentos.
“Você quer morrer espiritualmente? Então viva solitário!” (Warley Barros). Para vivermos no Espírito, não podemos ficar sozinhos. É necessário relacionamentos – quando em amor, em doação, em Deus, se torna a expressão de Sua glória. É necessário pessoas, pois o Corpo de Cristo é formado de pessoas.
Por isso insisto que existe algo nas pessoas, que não pode ser desprezado.

Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o Seu amor é, em nós, aperfeiçoado.
(1 Jo 4.12)

Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai.
(Cl 3.16-17)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A Igreja é Igreja mediante revelação de Cristo

Jesus estava caminhando com Seus discípulos. Havia rumores no meio do povo. As pessoas se perguntavam sobre quem seria aquele homem que havia perdoado pecados do paralítico e a esse curado (Mt 9.2 e 6), curado uma mulher que há doze anos padecia de uma hemorragia (Mt 9.20-22), ressuscitado a filha de um homem (Mt 9.23-25), curado muitos enfermos (Mt 15.30) e feitos muitos outros milagres.

[...] Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas.
Mas vós, continuou Ele, quem dizeis que Eu Sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
(Mt 16.13-16)

Enquanto o povo especulava sobre quem seria o Filho do Homem, o Senhor interrogava aos Seus discípulos sobre quem eles afirmavam ser Ele. Talvez, no meio dos discípulos, essa fosse a pergunta que não queria calar: Temos visto esse homem fazer tantas coisas, fazer milagres, falar com autoridade, alimentar multidões, dar ordens ao mar e ao vento, e nós temos seguido Ele, mas Quem é esse homem?
Jesus inquiriu isso de Seus discípulos. As pessoas argumentavam, supunham, diziam que Jesus era algum dos profetas que havia voltado para anunciar o reavivamento de Israel, ou até mesmo João Batista que havia ressuscitado de entre os mortos. Poucos acreditavam que Ele fosse o Messias.

Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. (Mt 16.16)

Pedro respondeu. Ele teve coragem. Ele teve revelação. Mas não foi algo que veio dele mesmo. O Pai havia revelado a Pedro algo tão alto, tão verdadeiro, tão difícil de acreditar. Imagem caminhar ao lado do Criador, dormir na areia da praia com o Messias, comer com o Filho do Deus vivo. Como pode?

Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas Meu Pai, que está nos céus. (Mt 16.17)

Era uma revelação que não poderia vir de carne e sangue, não poderia vir de homens, pessoas dessa terra, cuja mente e visão são tão pequenas e limitadas. Teria que ser alguém diferente para perceber alguém mais diferente ainda, alguém tão especial, um homem fora do comum. Esse era Jesus – um homem especial, o maior de todos.
Deus revelou, e talvez, por aquele instante Pedro tenha entendido. “Tu és o Cristo...” O termo grego para Cristo é christos, que no hebraico é a palavra mashiach, de onde se origina Messias. Tanto Cristo quanto Messias significam “o ungido”.
Ser ungido, na cultura do Oriente Médio, implicava que a pessoa era especial. Geralmente se era ungido por algum reconhecimento especial, uma recompensa por uma vitória na guerra ou quando um líder era levantado – geralmente, o rei. Os judeus esperavam (com exceção dos judeus messiânicos, os demais ainda esperam) por um rei, ungido, que seria o maior de todos e que traria a glória de Israel de volta. Então, Pedro, ao chamar Jesus de Messias: Tu és Rei, Ungido! Tu és Aquele que todos esperavam!
Pedro também disse: “... o Filho do Deus vivo”. Essa com certeza seria uma grande loucura para os judeus. Os judeus não chamavam nem pensavam em se referir a Deus como Pai, isso poderia ser considerado blasfêmia, o que levaria a pessoa a ser morta.
Na cultura do Oriente Média, ser filho implicava que a pessoa seria dotada de características e qualidades comuns do pai. Também, o filho teria os mesmos privilégios e o mesmo poder do pai – ele seria herdeiro. Agora, dizer que alguém é filho de Deus, não poderia deixar de ser loucura. Quem teria as mesmas qualidades, as mesmas características, privilégios e poder que Deus?
Esse era um mistério e uma grande revelação vinda do alto a Pedro. Aquele homem que eles estavam seguindo, de fato, era Filho de Deus, o Rei que eles esperavam há tanto tempo. “Tu és o Rei Ungido, o Filho de Deus!”

[...] Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas Meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
(Mt 16.17-18)

A pedra em que a Igreja está edificada é a Pessoa de Cristo, é essa revelação e entendimento da Pessoa de Jesus. E nós precisamos dessa revelação. Nós, para sermos Igreja, precisamos descobrir e entender, quem é Jesus!
Não foi carne nem sangue que revelaram isso a Pedro, e tampouco entenderemos isso apenas por alguém ter-nos dito ou escrito isso. Precisamos de um agir do próprio Espírito de Deus em nosso íntimo, abrindo o nosso coração, os olhos de nosso coração para enxergarmos a “imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda a Criação; pois, Nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio Dele e para Ele (Cl 1.15-16), inclusive a Igreja.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A Igreja nasceu mediante promessa

Como disse, há muitas coisas que entenderemos conforme pensarmos sobre as considerações seguintes; essas são apenas algumas considerações. Saiba que a Igreja de Cristo vai mais além e por isso não deve ser limitada a nada do que estiver sendo considerado aqui. Há mais.
A Ecclesia é fruto de uma promessa de uma aliança. A aliança abraâmica guarda em si uma promessa de Deus, e levo em consideração dois pontos referentes a essa promessa. 1. Deus promete a Abraão uma descendência; 2. Deus promete a Abraão uma terra.
Então, com isso chego a conclusão e consideração de que a Igreja, a Ecclesia nasceu mediante promessa e também é como um povo que vê a promessa se cumprir. Ela nasceu mediante a promessa de uma descendência e ela é como um povo que vê a promessa de uma terra prometida se cumprir.

Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade. (Gn 15.5)

Jeová fala a Abraão dizendo-lhe para sair de sua terra, do meio de seus parentes, em direção a uma terra que o Senhor lhe mostrou anos depois. Não sabemos como era a vida de Abraão antes do Senhor falar a ele e não sabemos se houve uma experiência de Abraão com o Senhor, antes disso. Apenas que o Senhor disse a Abraão (Abrão, até então).
Deus já lhe aponta uma grande nação. “Farei de ti uma grande nação” – disse o Senhor – e, em ti serão benditas todas as famílias da terra. Sem dúvida alguma, o Senhor estava sonhando com Israel, a Igreja e Seu Filho.
Creio e entendo que o Senhor, quando diz para Abraão em Gn 13.16 para contar o pó da terra, está, na verdade, se referindo ao povo de Israel. Essa seria a nação que viria da descendência de Abraão e Sara. “Abraão, conte o pó da terra, se for capaz. Saiba que assim será a sua descendência.” – como se dissesse o Senhor a Abraão.
Agora, quando, em Gn 15.5 Deus diz para Abraão contar as estrelas do céu, creio que o Senhor estava se referindo a nós, cristãos, Igreja e Corpo de Cristo, aqueles que viriam a fazer parte da família de Deus por intermédio de Cristo e do espírito de adoção (Rm 8.15).
A Igreja é fruto dessa promessa. Nós somos essa descendência, as estrelas do céu, povo de Deus, os circuncisos de coração, os filhos da adoção. Creio que a Igreja nasceu mediante promessa. Ela não foi apenas sonhada por Deus, no princípio, mas Deus deu uma promessa a um homem, e fez uma aliança com esse homem e nós somos frutos disso.
A Bíblia nos apresenta a história de Deus com a humanidade, com o Seu povo, sempre na base de alianças. Deus sempre Se relacionou com homens na base de aliança. A Criação foi realizada na base de aliança (Jr 33.20-21 e 25-26). Elohim – o homem é fruto do relacionamento de Elohim, da Trindade. “Façamos o homem à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança...” (Gn 1.26)
Deus prometeu a Abraão uma terra (Gn 12.1). Abraão passou por essa terra sem tomar posse dela. Apenas a sua descendência, após ser escravizada e liberta da escravidão que o Egito os impunha, é que entrou na terra (Gn 13.14-15 e 17).
Quando penso no povo de Israel, caminhando no deserto, me lembro da Igreja, apesar das faltas que o povo cometeu. Muitas falhas, reclamações e o pior, a descrença ao vislumbrar a promessa de Deus, de perto. Os espias foram até a terra que Deus prometera a Abraão e 10, dos 12, voltaram descrentes, medrosos e transmitiram isso ao povo todo. Apesar disso, vejo a Igreja quando o povo entra finalmente na terra que Deus prometera. Vejamos o que o autor da epístola aos Hebreus fala acerca do patriarca:

Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia.
Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador.
(Hb 11.8-10)

Abraão peregrinou na terra que Deus lhe prometera, mas em seu coração ele aguardava uma cidade edifica pelo próprio Deus. “A cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus...” (Ap 21.2). Nós como Igreja, passaremos pela Festa das Cabanas profética, passaremos por Tabernáculos, quando finalmente nos encontraremos com o Noivo, o Autor e Consumador de nossa fé. O autor de Hebreus continua falando a respeito de Abraão e sua descendência:

Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa. Por isso, também de um, aliás já amortecido, saiu uma posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e inumerável como a areia que está na praia do mar. Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. (Hb 11.11-14)

E a Palavra Se completa:

Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, Senhor Jesus Cristo, O Qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua Glória, segundo a eficácia do poder que Ele tem de até subordinar a Si todas as coisas. (Fp 3.20-21)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nós O buscamos por causa...

Permaneço crendo que existe um movimento na vida do cristão que sempre o leva para Deus, o faz buscar ao Senhor, mas tenho entendido, buscado e aprendido que o fato do homem buscar o Senhor é graça pura.
Percebo uma carência no meio da Igreja, hoje: ela carece de pessoas que não se contentem apenas com o novilho sacrificado ou imolado sobre o altar. São pessoas que não arredam de diante do altar enquanto o fogo não descer. Elas precisam de mais do que apenas ritos religiosos, atos exteriorizados da religião, atos complicados, apenas precisam do fogo, que representa a Presença de Deus.
São pessoas cujo desejo do coração é “rogo-Te que me mostres a Tua Glória” (Ex 33.18). “Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no Seu templo” (Sl 27.4).
É saber que o altar não foi apenas algo religioso, mas que o Senhor apareceu. Se for feito por causa Dele, então Ele precisa aparecer. Como podemos nos contentar em fazer algo para Ele sem Sua Presença? Não consigo aceitar isso. Se vamos ao culto para encontrá-lO, então precisamos de fato encontrá-lO. Se quisermos encontrá-lO, então precisamos, primeiramente, buscá-lO. Mas tudo isso é graça de Abba.
O buscamos por causa de Sua graça. Nós vamos até Ele apenas porque Ele nos leva até Ele mesmo.

Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que Me enviou, não o trouxer.
(Jo 6.44)

Irmão, não há esforço humano. Nós O buscamos porque Ele nos conquistou; procuramos conhecê-lO porque Ele nos conquistou; e prosseguimos porque Ele nos conquistou. Sua soberana vocação é para que conheçamo-lO.

... Mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lO alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (Fp 3.12-14)

Achegamos-nos a Ele porque simplesmente Ele nos atraiu com Sua benignidade e eterno amor (Jr 31.3). O que pode fazer o homem para Deus? Como pode se achegar ao Senhor se não for por Ele mesmo, pelo Filho, pelo sangue do Cordeiro? Irmão, pare de tentar agradar a Deus com atitudes, com práticas religiosas. Entenda que é somente pela graça. Somente Cristo em nós - esperança da glória – pode agradar ao Pai.
Não tem como ser conquistado por Cristo, se voltar para Ele sem querer conhecê-lO. Como diz Brennan Manning, “somos feitos para Cristo e nunca estaremos satisfeitos com menos do que isso”. Porque quando se trata de conhecê-lO, irmão, se trata da Pessoa de Cristo. Não sou movido a conhecê-lO. “Pois basta a intenção de dirigir-se a Deus, sem qualquer outro motivo além da Pessoa Dele” (The Cloud of Unknowing).

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-Te e louvar-Te, ou se devo antes conhecer-Te, para depois Te invocar. Mas alguém Te invocará antes de Te conhecer? Porque, Te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes Ser invocado para depois Ser conhecido? Mas invocarão Aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue? Com certeza, louvarão ao Senhor os que O buscam, porque os que O buscam O encontram e os que O encontram hão de louvá-lO. (Confissões de Santo Agostinho)

A coisa mais sublime que há nessa terra é conhecer a Cristo. Não há nada comparável a isto. E isto é o que meu coração deseja. Quero descobrir ao Senhor em tudo. Quero que Ele seja o meu Tudo e quero dar a Ele tudo para que Ele seja o meu Tudo. Se tenho a Cristo, o que mais preciso?

Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo. (Fp 3.7-8)

Creio, há somente a Cristo, e Ele é tudo! Preciso conhecê-lO. E como conhecê-lO? Não sei, mas sei que preciso das pessoas. Algo em mim, muito forte, me diz que Cristo está nelas.

domingo, 27 de setembro de 2009

A Igreja é formada por pessoas

Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (Gn 1.26-27)


A Igreja é Igreja por causa de Deus, pois nasceu Nele e é por causa Dele; mas a Igreja é Igreja, também, por nossa causa. Ela é formada de pessoas – nós. O ser humano foi criado à imagem de Deus e a Igreja é expressão disso – ela também nos mostra a imagem de Deus. Não sei se você consegue entender: nós fomos feitos à imagem de Deus, conforme a Sua semelhança e a Igreja, sendo formada por nós, pessoas com os olhos voltados para Cristo, também é formada à imagem de Deus, conforme a Sua semelhança.
Agora, o plano de Deus na vida do homem diz respeito a relacionamento. Deus criou o homem e a mulher para se relacionarem e o fruto disso era que a terra seria cheia da glória de Deus. A família é uma das bases da Igreja e também expressão da glória de Deus, por causa de seu relacionamento.
Relacionamento em Cristo é a expressão da glória de Deus. A Trindade Se relaciona perfeitamente. O Pai Se relaciona com o Filho que Se relaciona com o Espírito que Se relaciona com o Pai. Um Se relaciona com O Outro. Os três têm a mesma vontade. Não tem discórdia. Não há mais de uma vontade. Não há desejos diferentes. Um está voltado para O Outro. (Jo 17 expressa isso de uma forma muito especial)
Creio que a Ecclesia chegará a essa expressão – de termos uma mesma vontade, independente de opiniões particulares, pensamentos, desculpas ou articulações humanas; teremos um só propósito, o de revelar Jesus aos homens, o de ser Jesus na terra, o de fazer a vontade do Pai. Que importa a minha vontade quando meu coração está dedicado em descobrir e fazer a vontade do Pai? (Mt 26.39)
Quando nossos olhos estão voltados para Deus então nosso se relacionar é diferente do que o era antes. A vida do próprio Cristo Jesus não era baseada em atitudes religiosas, no que o judaísmo ou qualquer religião impunha na época. A vida de Jesus era baseada em relacionamentos, em Seu relacionamento com Deus e também com as pessoas (Jo 5.17 e 19, 6.36 e 17.1-26). Cristo era movido pela vontade do Pai e por compaixão aos homens (como dizer que Deus, simplesmente, é um Fogo Consumidor? – não é tão simples assim dizer isso, meu irmão).
Levando em considerações esses pensamentos, apresento algo mais. Quando penso em Igreja, Ecclesia de Cristo, inevitavelmente volto os meus olhos para Davi, quando este foge para a caverna de Adulão e todo tipo de pessoa se ajunta a ele, naquele lugar (1 Sm 22.2). A Palavra nos mostra que ali se ajuntaram homens que se achavam em aperto, endividados e amargurados de espírito. Eram homens sem honra, frustrados com a vida, decepcionados, pecadores, imperfeitos, que viviam em dificuldade.
A Igreja é formada por pessoas assim. Aquele que diz que a Igreja é lugar de santos, está dizendo um grave engano. A Igreja é um lugar de pessoas imperfeitas (deveria ser proibida a entrada de pessoas perfeitas). Você se acha bom meu irmão? Jesus não veio para os bons, para os sãos. Ele veio para pessoas desesperadas, cansadas, exaustas, doentes (Mt 9.12; Mc 2.17 e Lc 5.31) . Cristo veio para os pecadores (1 Tm 1.15).
Por que esperamos pessoas perfeitas nas igrejas, irmão? Por que nos escandalizamos e condenamos o nosso irmãozinho, quando este cai e peca? Saiba que ele está no lugar onde deveria estar que é perto de Jesus e Cristo é gracioso, irmão.
A graça não tem sentindo sem o pecado, pois a graça fala de Jesus, justo, morrer por pessoas injustas; ela fala de Cristo, sem pecado, morrer pelos pecadores. Graça de Deus fala da morte de Cristo e de Sua ressurreição. Ressurreição, pois a morte não teria sentindo, também, sem a ressurreição.
A Ecclesia precisa aprender a receber os doentes, os enfermos. O VINDE (Mt 11.28) é para os cansados, sobrecarregados, oprimidos, aflitos, sem esperança, sem vontade de viver, cujo vazio é sentindo de forma insuportável; é para aqueles que se acham pecadores, imprestáveis; para aquelas pessoas que não acham o sentindo para a sua vida.
A Igreja é formada de pessoas de todo tipo, pecadores, por causa Dele, irmão.


Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.
Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na Sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em Si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade.
E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor. (Ef 2.11-21)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Igreja (Ecclesia) de Elohim

Gostaria de apresentar algumas considerações a respeito da Igreja, e quando me refiro a Igreja (em maiúsculo) na verdade estou me referindo a Ecclesia, a qual explicarei mais para frente.
Em alguns momentos de nossa caminhada, precisamos levar em consideração o passado (Ag 1.5), não é para ficar lembrando-se de pecado, procurando pecado, se auto-comiserando ou se auto-flagelando. Não para o mal, mas para entendermos o ponto em que estamos, a razão porque estamos onde chegamos e até mesmo sabermos como agir em situações idênticas ou semelhantes.
Com isso, quero considerar algumas coisas sobre a origem da Igreja. Estamos em tempos em que sua missão precisa ser entendida, para ser cumprida. Como querer entender sua missão se não conhecemos nada a respeito de seu sentido, de como nasceu, qual propósito, como era. São considerações pessoais até mesmo, mas que, creio, serão extremamente úteis para compreender seu papel.
Permita-me ser repetitivo em alguns momentos, apresentando as mesmas considerações várias vezes, pois elas se completam. Às vezes é necessário interromper uma e partir para a seguinte para que essa uma seja compreendida com mais clareza e amplitude.
A Igreja nasceu em Deus, em Seu coração.
Precisamos entender e crer que a Igreja, antes de qualquer coisa, teve origem em Deus. O Pai, em Sua pessoalidade, sonhou com a Igreja, que mais para frente, como veremos, seria parte de Sua família.

Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16.18)

A questão agora, não é a história em si (em breve essa será a questão, pois falarei a respeito “desta pedra” sobre a qual Cristo edificou a Sua Igreja), mas justamente a Pessoa que diz: eu edificarei a minha Igreja.
Essa pessoa é Cristo, aquele que é a Imagem do Deus invisível (Cl 1.15). Todas as coisas foram criadas em Cristo, nos céus e na terra, coisas visíveis e invisíveis, o que vemos com nossos olhos humanos e aquilo que vemos mediante fé. Tudo foi criado por meio Dele e para Ele (Cl 1.16).
E pela fé entendemos que foi o universo formado pela Palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem (Hb 11.3). No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio Dele, e sem Ele, nada do que foi feito se fez (Jo 1.1-3). Isto, João escreve a respeito de Cristo. Este é o Cristo que disse: eu edificarei.
Edificar significa construir, dar bons exemplos, instruir. Cristo é quem constrói a Igreja (Ecclesia), ela é fundamentada Nele (1 Co 3.11). Ele é a Cabeça da Igreja (Cl 1.18) e nós, membros de Cristo.
Jesus nos deu bons exemplos (Jo 13.15) e nós, como cristãos e membros do Seu Corpo, devemos seguir Seus passos, Seus exemplos. E Cristo, nos instruiu em toda verdade, sempre revelando o Pai aos Seus discípulos e hoje a nós. Antes Deus falava aos nossos pais através dos profetas; hoje, o Pai nos falava por intermédio de Seu Filho, Jesus. Se olharmos para Cristo, veremos Deus (Jo 14.9).
Digo essas coisas na tentativa de que possamos perceber, ao menos um pouco, sobre como estamos ligados a Cristo ou como devemos estar ligados a Ele. Não tem como “ser” fora de Cristo (Jo 15.4). Sem Cristo, o que somos? Para onde iremos, se só Cristo tem as palavras de vida, e esta eterna? (Jo 6.68)
Aleluia! Ele nos fez para Ele, como pessoas e como Igreja que somos. Se fomos feitos para Ele, nunca estaremos satisfeitos com nada menos do que Ele, como diz Brennan Manning.

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, Nele, antes da fundação do mundo [...] (Ef 1.3-4)

E a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada (1 Jo 1.2). A Igreja é isso!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Consciência de Deus

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o Seu eterno poder, como também a Sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis.
(Rm 1.20)

Deus é real; e Ele está presente onde você está. Sua Presença pode ser percebida na simplicidade, na humildade das pessoas, de uma congregação, de um povo. Ele pode ser percebido nas pessoas que estão ao nosso redor, pessoas do Corpo de Cristo, da Igreja. Se você está lendo isso ao lado de alguém, ou próximo a alguém, acredite e perceba Deus na vida dessa pessoa. Mesmo que seja nas dúvidas, nas perguntas, no sentimento de tristeza.
O Senhor está em todo lugar. Olhe para o céu e veja o Senhor. Todo o firmamento, toda a Criação, a natureza, os animais, tudo proclama a glória do Senhor (Sl 19.1-4). A ardente expectativa da criação aguarda a manifestação dos filhos de Deus (Rm 8.19) – isso é real e isso mostra que a criação é consciente da existência de Deus.
“A menor célula de nosso organismo aponta para Deus, aspira conhecê-lO e descobrir o seu Criador” (Neílson Silva) Tudo em nós aponta para o Senhor. Aliás, toda a história, desde o início da Criação, aponta para uma única pessoa: Aquele que é a imagem do Deus invisível – Cristo (Cl 1.15)
O próprio ser humano e todas as civilizações durante a história sempre acreditaram, ainda que algumas fossem politeístas, em um Deus que era maior do que os outros, o Supremo, o Superior. Isso me faz acreditar nessa “consciência inconsciente” do El Elyon (Deus Altíssimo, o Forte dos fortes, Gn 14.18-20).
Mas estamos vivendo dias em que essa consciência de Deus está se esvaecendo. As pessoas perdem noção da realidade de Deus, de Seu Espírito Santo e Sua Presença. Não que a Criação tenha deixado de proclamar Deus e Sua Glória, mas o ser humano tem perdido a noção da realidade de Deus. Deus é real.
Você acredita que Deus existe e que Ele tem algo para a sua vida? Crê? Então porque vivemos, tantas vezes, como se Ele não existisse? Pecamos como se Ele não estivesse por perto, olhando, nos observando, esperando algo de nós? Isso é a perda da consciência de Deus, a perda da noção de que Ele é real, vivo e presente. Se não é a perda da consciência de Sua Existência e Presença, é banalização de Deus. Estamos banalizando Deus e o Seu relacionamento com o ser humano.
Certa vez, um adolescente apresentou uma indagação. Perguntou-me se as pessoas que não ouviram falar de Jesus vão para o inferno e se isso seria justo. Não sei responder com precisão, mas Paulo escreve no capítulo 1 de sua carta aos Romanos que o homem é indesculpável, pois mesmo que os atributos invisíveis de Deus, como Sua própria existência, Seu poder, Sua majestade, sendo claramente revelados ou reconhecidos na Criação, o homem despreza Deus, insistentemente.
Por isso, sempre, o homem pensou em uma divindade, que, mesmo havendo outras, mesmo sendo um povo politeísta, essa seria a maior. O ser humano pode não ter ouvido falar especificamente de Jesus, mas, como descrito acima, nunca a Criação deixou de proclamar o seu Criador. Deus é claramente reconhecido nas coisas que estão ao nosso redor.
Essa é a maior questão que quero apresentar aqui. O ser humano, ou aqueles que ainda não perderam, não negaram, tem noção da existência de Deus. Porque, por si só o homem sabe o que é certo e o que é errado, ele é capaz de reconhecer o bem e o mal (Rm 2.14-15). Como quando Paulo visita Atenas em Atos 17; ele percebeu que entre os deuses que os atenienses cultuavam e adoravam, havia um altar no qual estava inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO.
O problema da Igreja, que tem pensado em Jesus, tem falado sobre Jesus, é falta de vergonha mesmo, sua prioridade não está em Deus; a Igreja tem conhecido esse Deus e tem vivido como se não o conhecesse (como um ateísmo prático, um modus vivendi - Ef 2.12, Tt 1.16). Mas no mundo, nem todos têm conhecimento de que esse DEUS DESCONHECIDO é Javé, El Elyon, Adonai, Pater, Aba. Por isso devemos ouvir e obedecer ao IDE, devemos ser solícitos, buscar a vida de Corpo, perder para que Cristo apareça na Igreja, na nossa vida. “O mundo precisa de pessoas que digam para ele que há uma esperança. E nós temos a Única Esperança” (Eduardo Ferrari em 31/mai/09).
Cristo está muito além do que nossos olhos podem ver, muito além da religião, das paredes das igrejas. Ele está nas pessoas.
Está na hora de entendermos o chamado do Senhor; está na hora de entendermos que além do IDE (Mt 28.19 e Mc 16.15), existe o VINDE (Mt 11.28). A Igreja precisa ir e pregar o evangelho, fazer discípulos, mas a Igreja também precisa aprender a receber todos aqueles que estão cansados e sobrecarregados, que estão embrulhados no pecado e acorrentados na falta de perdão, nas mágoas que a vida gera.
Antes, precisamos tirar as máscaras que a religião nos coloca, tirar a máscara da própria religião e buscar a verdade e a vida que há em Cristo. O Cristianismo não é brincadeira. “Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o Cristianismo” (C. S. Lewis).
Nós não podemos ler a Bíblia porque a religião nos coloca. Nós não podemos orar por causa de um ritual ou uma tradição ou imposição de alguma liderança. Se fizermos essas coisas por causa das pessoas, é tudo engano e aparência, é tudo uma máscara, uma grande farsa. Está na hora de nos ligarmos a Deus, buscarmos intimidade com Ele, uma vida de santidade.
Precisamos ler a Palavra porque cremos que “a leitura diária da Bíblia nos leva a um patamar sobrenatural de comunhão com Jesus Cristo” (Sílvio Freitas). “A Palavra é importante porque é o próprio Jesus e é a Verdadeira Vida” (Verônica Paixão). “A Palavra do Senhor tem poder para nos sustentar e nos nutrir a cada dia e, por isso, é totalmente suficiente para o homem” (Matheus Aguiar). Precisamos voltar nossos olhos para a oração crendo que “a oração liga o nosso espírito ao Espírito de Deus” (Marcela Ribeiro). Temos que começar a crer de fato, nessas coisas.
Irmãos, não sejamos como Moisés, que ao perceber que aquele brilho de sua face estava sumindo, manteve o véu, como aparência de que ainda estava brilhando (2 Co 3.13). Um dos papeis da Igreja e, por isso, o nosso, é expressar ou representar o próprio Jesus, como Seu Corpo, nessa terra.
Como expressaremos Jesus se estivermos usando máscaras, ou mascarando a nossa falsa espiritualidade? Como seremos luz do mundo ou sal da terra se não estivermos ligados, constantemente, em Jesus (Mt 5.13-16)? Como inalaremos do Seu perfume se não estivermos Nele (2 Co 2.15)? Como brilharemos Sua Glória se estivermos vivendo uma hipocrisia (2 Co 3.18)? Todos carecemos da Glória de Deus (Rm 3.23) e hoje cabe a Igreja (pois o Noivo não encarnará novamente) revelar isso a Criação que aguarda ardentemente pela manifestação da Igreja, dos filhos de Deus, nós (Rm 8.19).

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ministério da Palavra Hoje!

Estamos em dias difíceis, nos quais todo tipo de evangelho é pregado como se fosse o verdadeiro evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Homens e mulheres que se auto-intitulam homens e mulheres de Deus têm pregado sermões e pregado um evangelho como quem coça as orelhas dos seus ouvintes; estão presos em pregar o que as pessoas querem ouvir e estão sujeitos aos bancos, enganando-se ao pensarem que tudo o que dizem vêm do alto.
Os verdadeiros homens e mulheres de Deus que, creio, foram levantados e ainda serão levantados, nesse presente século, não lançam outro fundamento que não seja Cristo (1 Co 3.11) e este ressurreto; são prudentes construtores (1 Co 3.10) e prudentes pregadores. São pessoas com opinião própria (Rm 14.5b), com os olhos voltados para Deus (Sl 141.8) e que não se conformam com este presente século, mas buscam a renovação de suas mentes no Senhor e assim suas vidas são transformadas (Rm 12.2).
O Ministério da Palavra não é efetivo diante dos homens sem que o pregador tenha uma vida de oração diante do Senhor. “Pregação sem santidade não pode transformar vidas; não pode produzir o crescimento da igreja” (E. M. Bounds); e a oração o livra do engano, o livra da operação do erro, limpa sua visão e promove vida e unção dentro de si para que os outros, de igual forma, percebam Cristo nas palavras e na vida do pregador. A oração combinada com a leitura diligente e pregação da Palavra de Deus geram vida e não morte. “O ministério da Palavra tem o poder de mudar uma vida, de fazer algo acontecer” (Leonardo Paiva). “A pregação é Cristo chegando aos homens” (Martinho Lutero).
“Para o ministro da Palavra, a base do ministério e da própria vida dele tem que ser a busca por comunhão intensa com Deus, pois não se pode saber os desejos de Deus sem conversar com Ele” (Leandro Augusto). Essa busca diz respeito ao que Errol Hulse chama de piedade: “Piedade consiste de oração junto ao trono de Deus, estudo de Sua Palavra em Sua Presença e a manutenção de Deus em nossas almas, que afeta toda a nossa maneira de viver.” “Exercer o Ministério da Palavra é não somente ministrar a Palavra de Deus aos outros, mas também vivê-la numa vida de acordo com os seus ensinamentos e promessas” (Matheus Aguiar).
Você busca Deus nas Escrituras ou na Bíblia até encontrá-lO e não aceita ficar sem estar diante Dele, em oração e leitura, buscando-O e encontrando-O. Somente em contato com Ele, constante, podemos ter nossa vida transformada a cada dia de forma a resplandecermos a Sua Glória ou Sua Presença como o foi com Moisés. “Você não tem que orar e ler a Bíblia só quando for sua vez de pregar, você tem que ter comunhão, para saber o que está no coração Dele. Conhecendo-O, você saberá ser parecido com Ele e assim pregará a todos que convivem com você” (Ariella Costa).
Homens e mulheres de Deus sabem de suas falhas, pecados e limitações; não as escondem. As confessam. Não vivem como artistas, mascarados, interpretando sempre. Não pregam a si próprios, não apontam para si, mas pregam a Cristo Senhor de tudo e de todos e a si próprios como servos (2 Co 4.5). Mas eles dão de graça aos outros aquilo que receberam de graça do Pai (Mt 10.8): uma vida mudada, a vida de Cristo dentro de si.
Irmãos, não aceitem o que esse mundo tem a oferecer. Não aceitem o sistema. Não aceitem nadar a favor da maré deste mundo. Não aceitem a satisfação (falsa) dada pela religião – não se manipula Deus nem se consegue agradá-lO e viver uma vida de independência ao mesmo tempo. Não aceitem o desânimo de que nada irá dar certo. Como já disse, corram para os braços de Aba, entrem em seus secretos (Mt 6.6) e se coloquem diante do Pai, em leitura e oração até encontrá-lO. O primeiro passo para encontrar algo é buscar, procurar, ir atrás, não se cansar. Busquem o verdadeiro Cristianismo que é Cristo vivendo no homem e isso transformando o seu viver diariamente.
Eu quero dizer algo mais. Deus é fiel (Dt 7.9; 1 Co 1.9; 1 Ts 5.24 Hb 10.23).
Uma vez li uma história verídica em que Tom estava dirigindo seu carro, numa estrada, e cerca de cem metros adiante, na mesma pista, seguia um carro em alta velocidade. Tom ficou chocado quando viu a porta traseira do carro se abrir, por onde o passageiro atirou um cachorro para fora do carro. O animal chocou-se contra o concreto e rolou até uma valeta. Sangrando muito, o cachorro levantou-se e começou a correr atrás do carro do dono que o havia abandonado com tanta crueldade. Sua fidelidade incondicional não levava em conta a violência sofrida nem a dureza de coração do seu dono.
A fidelidade obstinada e incondicional de Cristo diante nossa indiferença e frieza é surpreendente. Fico realmente escandalizado, assustado com tamanha misericórdia, fidelidade e amor. Fico realmente conquistado, impactado ao pensar que mesmo ao ser negado por mim, e eu sendo infiel, Ele permanece fiel e atrás de mim. Ele não pode negar-Se a Si mesmo (2 Tm 2.13).
Leiam esses versículos e os guarde em seus corações: 2 Co 12.15 e At 6.3-4. Sejamos como envelopes de cartas que carregam dentro de si a mensagem que Deus tem para os homens e para a Sua Igreja. Sejamos como gravetos acesos no Fogo do Espírito Santo. Sejamos como brasas de fogo andando sobre a terra, movidos pelo amor ao povo Deus, a Criação (Rm 8.19) e ao Criador.

domingo, 12 de julho de 2009

A vida do cristão como espelho de Deus

E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a Glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na Sua própria Imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2 Co 3.18) (RA)

Portanto, todos nós, com o rosto descoberto, refletimos como um espelho a Glória do Senhor. Aquela Glória vem do Senhor, que é o Espírito. Ela nos torna parecidos com o Senhor, e assim a nossa glória vai ficando cada vez maior.(2 Co 3.18) (LH)

Gostaria de compartilhar algumas coisas que li de Hernandez Dias Lopes e outras de meu próprio coração a respeito da vida do cristão. É importante sabermos e buscarmos no Senhor Deus entender alguns dos sentidos da nossa vida – e um deles, creio, definitivamente, é expressar a glória de Deus.
Para refletirmos, como espelho, a glória e a vida de nosso Deus, não podemos permanecer vivendo de qualquer jeito, aceitando o nosso comodismo e sendo levados pela indiferença (que leva ao engano) de nossos dias. Levemos em consideração alguns pensamentos a respeito de viver como espelho.
Primeiro, é importante que o espelho seja mudo. Nenhum espelho fala, nenhum espelho mostra o que somos ou o que deve ser mostrado através do som. Isso acontece através da imagem. Ele não prega, não alardeia, não garganteia e não discursa. Apenas reflete, apenas revela. A imagem é o que importa. Pensar nisso nos leva a crer que o que importa não são as palavras do cristão; não adianta você jogar um balde de versículos na cabeça dos ouvintes quando a sua vida não condiz com o que você tanto fala.
O espelho, prega aos olhos daqueles que vêem. É o exemplo que importa. A vida, o comportamento, as atitudes e reações são o que falam mais alto quando se trata de refletir a glória do Soberano Deus. Como diz Hernandes Dias Lopes, “o exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas A única forma eficaz de ensinar”.
Segundo, o espelho deve ser limpo. Um espelho sujo ou embaçado dificulta a visão da imagem refletida. Ele precisa ser limpo para refletir a imagem com clareza. Se formos como um espelho sujo, as pessoas terão dificuldade em entender àquilo que realmente queremos refletir.
O crente que não vive consoante aquilo que acredita, é desonesto. O cristão que leva uma vida dupla, diz ser algo que não é ou que confunde a vida colocando máscaras e vivendo de qualquer jeito, vivendo como um ator ou um hipócrita é incapaz de fazer com que as pessoas entendam a imagem refletida. Como verão a glória e o amor de Cristo Jesus se somos como espelhos sujos?
Terceiro, o espelho necessita ser plano e isso vem nos mostrar a necessidade da vida cristã ser uma vida ilibada ou limpa e irrepreensível. O espelho que não é plano, mas é côncavo ou convexo distorce a imagem a ser refletida. Se você já teve a oportunidade de entrar em uma casa de espelhos, em algum circo, você deve ter visto o quanto a imagem fica alterada, variando desde a cabeça grande com o corpo pequeno até uma pessoa com muitas cabeças ou olhos.
Isso implica que as pessoas, sem dúvida, devem olhar para o crente e encontrar esse diferencial, uma pessoa honesta, fiel e irrepreensível. Imagine como as pessoas estão enxergando Jesus em você; ou se elas realmente estão vendo Jesus em você. Quando se trata de cristianismo, não tem como descartar uma vida semelhante a Cristo, em que as pessoas olham e realmente vêem em você um discípulo repleto de traços e coisas semelhantes ao Mestre.
Quarto e último, o espelho precisa ser iluminado. O que podemos enxergar em um espelho em um ambiente de trevas? Não conseguimos ver nada nem o espelho é capaz de refletir algo. Por isso há necessidade da luz.
Como cristãos, precisamos buscar essa vida iluminada. Como isso? Não há esforço algum, apenas o de responder e se aproximar do próprio Cristo. Ele é a luz do mundo (Jo 8.12) e por isso precisamos estar perto Dele. Sua Palavra também é luz para nossos pés (Sl 119.105) e o contato com ela faz toda diferença.
Nós não temos luz própria assim como a Lua não tem luz própria. Ela reflete a luz do Sol; nós refletimos, como cristãos, a luz de Cristo. São palavras do Senhor: “vós sois a luz do mundo” (Mt 5.14). Nós, cristãos, somos a luz do mundo, mas o que refletimos não é a nossa luz, é a luz de Cristo. Creio que as pessoas vão olhar para nós e não nos verão, simplesmente, mas verão a luz de Cristo, como o foi na Igreja do primeiro século (At 11.26).
Como seremos espelhos mudos, limpos, planos e iluminados, que refletem a luz do próprio Jesus àqueles que nos fitam? Não tem outra maneira a não ser da comunhão com Cristo. O contato com Jesus, diário, nos fará mais parecidos com Ele vez após vez. O trabalhar do Seu Espírito Santo em nosso interior nos transformará de glória em glória, vez após vez.
O segredo é esse, irmãos: a comunhão. Deleitemo-nos em cada encontro e sejamos marcados.

[...] Cristo em vós, a Esperança da Glória. (Cl 1.27)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Escandalize-se (se quiser!)


Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe;
nem os anjos, nem o Filho, senão o Pai. (Mc 13.33)



Quero compartilhar algumas coisas que tenho lido, escrito e pensado. São coisas a respeito de nosso cristianismo ou daquilo que pensamos ser cristianismo, ou ainda, de nossa vida. Não quero lhe dizer o que é cristianismo, de fato, mas sobre o que é ser cristão; ou o que não é ser cristão.
As igrejas que pregam Jesus aqui na América, atualmente, apresentam um cristianismo muito misturado com a cultura de nossa época. Um padrão de vida muito aceitável pelo mundo ocidental. E Jesus nos disse que seríamos bem-aventurados se perseguidos [ou não aceitos] por causa da justiça ou quando injuriados por Sua causa. (Mt 5.10-11 – paráfrase do autor)
Pessoas que vão até as igrejas e ouvem pregações, estranhamente voltam e continuam as mesmas. Professam crer em Jesus, mas estão pouco interessadas em experimentar de uma mudança de vida, de atitudes. Dizer “eu me converti” e não mudar não é conversão. Se você pensa que apenas crer em Jesus lhe torna um cristão, você se engana. Crente até os demônios são (Tg 2.19).
Vi uma pregação do Paul Washer em que ele apresenta um exemplo totalmente verdadeiro sobre como deveria ser a nossa conversão. Ele disse que é impossível alguém ter um encontro ou ser encontrado por um caminhão de carga de 30 toneladas e ficar intacto, nenhum arranhão, nenhuma mudança física ou outra coisa do tipo. E Deus é muito maior que um caminhão de carga.
As pessoas vão às igrejas, aos cultos, mas não mudam de vida, e não experimentam de um relacionamento pessoal com Cristo. Jesus é a Verdade (Jo 14.6) e a Verdade liberta (Jo 8.32). Como diz John White, se a verdade não o libertar do pecado, só há uma conclusão: você não conhece a Verdade, está apenas repetindo falas, como um papagaio.
Cristianismo não é repetir falas, mas é o próprio Jesus vivendo em nós. Sua vida em nós nos traz liberdade, nos faz transbordar em amor e compaixão. Onde estão essas coisas hoje? Onde está o Espírito Santo fluindo em nós como um rio de águas vivas para os sedentos (Jo 4.11 - Jesus é a Água Viva e nós O temos) e para o mundo que aguarda a manifestação dessa vida ardentemente (Rm 8.19)?
O Evangelho não é brincadeira, irmão. O Cristianismo é coisa séria – seríssima.
Nós não somos feitos cristãos por causa do lugar em que nascemos. Se o país ou a casa em que nascemos é um país cristão ou uma casa cristã, ainda assim não somos cristãos. Nós nascemos no lugar que nascemos e estamos no lugar que estamos para buscarmos a Deus e talvez, tateando, pudéssemos achá-lO (At 17.26-27). Não nascemos cristãos. Precisamos encontrá-lO ou sermos achados por Ele para isso.
Cristianismo, que é a verdadeira religião pura e imaculada para com Deus, não é tradição familiar. Portanto, pensar que porque seus pais são cristãos, você também o é, é um engano.
O fato de seus pais serem cristãos não torna você um cristão. A responsabilidade é totalmente pessoal (Ez 18.20). “Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram?” (Ez 18.2)
Assim como o filho não leva a iniqüidade do pai, as atitudes do pai, não salvam o filho. Ao Cordeiro pertence a salvação e não aos homens (Ap 7.10).
O fato de você chamar a Jesus de Senhor e por inúmeras vezes sussurrar “Pai Amado” ou “Deus Eterno” não faz de você um cristão. Assim como fazer obras em nome de Deus também não o faz um cristão. No inferno haverá muitas pessoas cheias de boas intenções (Mt 5.22-23). Obras não salvam. A única obra que salva é aquela feita pelo Filho de Deus, a obra da cruz.
Com certeza Jesus em nós, Sua vida brotando, fluindo de nós é manifesta em boas obras. O perfume de Jesus não é sentido, mas visto. A vida de Jesus não é para ser falada, é para ser vivida. E nós só produzimos frutos se ligados a Jesus (Jo 15.4). Mas nós somos salvos unicamente por causa do sangue do Cordeiro, que traz o perdão de Deus para aqueles que são achados por Ele.
Imagino Deus olhando para a Sua Criação manchada pelo pecado e condenada a morte eterna até que o Seu Filho vem ao mundo. Deus decide resolver o problema da humanidade, decide fazer a Sua parte e a que era cabida ao homem. Agora, por causa do sangue, Ele não nos vê mais manchados ou sujos por causa do pecado, mas alvos do que a neve e puros. Ele olha para nós e vê o sangue do Seu Filho.
São muitos os que optam pelo caminho espaço e a porta larga. Muitos dentro das igrejas, chamando a si próprios de cristãos estão andando no caminho espaçoso que conduz a porta larga e nem mesmo se dão conta disso. Mal sabemos que atrás dessa porta está a morta eterna, a perdição.
Irmãos, devemos vigiar e orar, pois não sabemos quando virá o Dia do Senhor. Muitas pessoas dizem e fazem predições com respeito a esse dia. Não acredite irmãos. O Deus Eterno não iria contra a Sua própria Palavra. A respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos, nem o Filho, senão o Pai (Mc 13.33). Volto a dizer, devemos vigiar e orar.

Jesus associou o verbo vigiar com o verbo orar: “Vigiai e orai, para que não entrei em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41) São duas atividades que se misturam e se completam. Não basta orar: é preciso vigiar cuidadosamente. Não basta vigiar: é preciso orar para alcançar sabedoria e poder para vencer tentações e provações. [...] Vigiar sem orar seria muito cansativo e poderia redundar em perniciosa arrogância. Orar sem vigiar seria uma temeridade.
(Elben Lenz César)

E não só vigiar e orar, irmãos, mas creio que precisamos nos examinar constantemente para vermos se realmente estamos na fé (2 Co 13.3), para ver se não nos desviamos do caminho do Senhor e caímos em nosso próprio entendimento, em nosso próprio engano. Devemos viver por fé e fazer tudo por fé, pois tudo o que não provém de fé é pecado (Rm 14.23). O Cristianismo é vivido por fé. Uma vida com Deus é vivida por fé. Vivamos uma vida diferente, por fé, irmãos!

domingo, 17 de maio de 2009

Amor fraternal puro e simples

Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. (Gl 5.13)

Como sabeis irmãos, a vida cristã traz a nós inúmeras responsabilidades. Nenhuma destas nos é outorgada e nada que fazemos, fazemos por nós mesmos. Tudo o que fazemos, deve ser feito para Cristo (1 Co 10.31). Creio que é justamente por isso que João é capaz de nos dizer que os mandamentos do Senhor não são pesados (1 Jo 5.3).
Uma das responsabilidades de um cristão, penso ser o amor fraternal. Mas antes, permita-me lhe dar uma definição do que é fraternal: fraternal é a referência dada à afeição existente em uma família, entre irmãos. Amor fraternal é justamente essa afeição amorosa que rodeia as pessoas de uma mesma família, os irmãos. Mas, neste texto, a família a qual quero me referir é a família cristã, ou de Cristo.
Por inúmeras vezes, nas Escrituras, somos instruídos pelos apóstolos a prática do amor fraternal. O nosso Senhor Cristo, também nos dá tal ordem.
Na carta aos irmãos da Igreja de Filipos, o apóstolo Paulo exorta: Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros (Fp 2.3-4). Veja bem meu irmão que o apóstolo não dá liberdade ou, não exorta ninguém a cuidar da vida do irmão; o que ele nos diz é para considerarmos o irmão e servirmos ao invés de querermos que as coisas sejam ou aconteçam da nossa maneira.
O princípio do amor fraternal ou o considerar o irmão é a humildade. Veja bem que no Sermão do Monte, a primeira coisa que Jesus nos diz é “bem-aventurados os humildes de espírito...” (Mt 5.3). Este é o ponto. É o que Cristo nos ensinou (Jo 13.12-15) e é o que Paulo continua e afirma:

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de Servo, tornando-Se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo Se humilhou, tornando-se obediente até e à morte e morte de Cruz. [...] (Fp 2.5-8)

Precisamos buscar essa humildade, irmãos, de forma que venhamos a compreender e a viver o considerar ao irmão acima de nós. Por que digo acima? Somente para contraria a idéia ou a visão de que você está acima ou eu estou acima. Ninguém está acima, senão Aquele cujo nome foi e está exaltado pelo Pai (Fp 2.6-11) e este, antes, considerou o outro (nós).
O apóstolo João também nos instrui:

[...] Esse mandamento antigo é a Palavra que ouvistes. Todavia, vos escrevo novo mandamento, aquilo que é verdadeiro Nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha. Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço. [...] (1 Jo 2.7b-10)

Por que ele nos diz que se odiamos ao nosso irmão, na verdade, ainda estamos nas trevas? O próprio apóstolo João nos explica no capítulo quatro que devemos amar uns aos outros porque o amor procede de Deus. Quem ama é nascido de Deus e O conhece (Jo 4.7). Agora irmão, se Deus nos amou da mesma maneira que a Seu Filho, devemos nós amar uns aos outros (Jo 3.16; 1 Jo 4.09-11).
Irmão, nós só podemos amar os outros por causa desse amor. Nós só somos capazes de amar os outros porque Ele nos amou primeiro. Veja que João, em 1 Jo 4.19, não se utiliza do artigo “o”. Pois ele não está se referindo a Jesus exclusivamente. Ele se refere aos irmãos, como o próprio contexto do texto nos mostra.
Se amamos aos irmãos amamos a Deus. Se amamos a Deus amamos os irmãos (1 Jo 5.1-2).
E este mandamento dito por João, antes, nos fora dado por Cristo:

Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13.34-35)

Jesus afirma que seus discípulos serão conhecidos pelo amor. O amor vivido por Cristo é raro hoje em dia. As pessoas amam por interesse, amam esperando ser amadas. Nós vivemos assim. Sem dúvida alguma esse amor surpreenderá Satanás e o mundo.
Precisamos nos atentar para essas coisas meus irmãos, porque, em Cristo, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor (Gl 5.6). Essa fé que atua pelo amor, sim, tem valor; e tem mais valor do que qualquer cargo, título ou palavra. Essa fé é justamente atitudes que temos para com o outro e cujo motor (ou motivação) é o amor. O mesmo amor que as pessoas verão nos discípulos de Cristo; mesmo amor com o qual somos chamados a ir até as pessoas; o mesmo amor que o mundo carece.
Por isso a nossa liberdade é limitada. E digo que ela é limitada pelo amor. Pelo amor fraternal. Tornamos-nos servos, pelo amor. Consideramos o outro pelo amor. Humilhamos-nos pelo amor. Paramos de falar do outro pelo amor. Interrompemos as disputas pelo amor. Fazemos discípulos de todas as nações pelo amor. Tudo pelo amor.

Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Se, vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos. (Gl 5.14-15)

domingo, 3 de maio de 2009

Chamados a uma vida de piedade

Querido irmão, antes de tudo quero esclarecer o sentido com o qual utilizarei a expressão piedade. Quando me refiro à piedade, quero dizer o mesmo que Errol Hulse:

Piedade é uma constante cultura da vida interior de santidade diante de Deus e para Deus, que por sua vez se aplica em todas as outras esferas da vida e da prática. Piedade consiste de oração junto ao trono de Deus, estudo de Sua Palavra em Sua Presença e a manutenção de Deus em nossas almas, que afeta toda a nossa maneira de viver. (Errol Hulse. Op. Cit. 1986: pág. 65)

Quero apresentar alguns aspectos da vida de piedade. Primeiramente quero dizer que piedade tem a ver com uma vida diária diante de Deus, uma prática diária de se entregar ao Senhor em oração e leitura da Palavra. A verdadeira religião trata-se de uma vida de piedade, como Lutero afirmou: “A religião não é o ‘conhecimento doutrinário’, mas sim sabedoria nascida da experiência pessoal.”
Essa experiência pessoal não é aquela que vivemos apenas aos finais de semana, quando vamos aos cultos, as missas, a igreja; mas é uma experiência pessoal que é vivida ou obtida nos nossos momentos de intimidade com Abba, fruto das horas semanais em que passamos conversando com Aquele que sempre sonhou em ter comunhão com a humanidade.
Somos todos chamados a viver uma vida de piedade. Mas como vivemos essa vida? Como escrevi acima, é uma prática diária, é fruto de uma vida de experiência pessoal de comunhão com o Senhor. A cada dia de sua semana, você vive uma busca implacável por Abba e Sua Palavra. Em outras palavras, vivemos uma vida de piedade nos dirigindo a prática de oração diante de Deus, de leitura, estudo e meditação de Sua Palavra e uma comunhão diária com o Senhor, de forma que Ele venha a transformar a nossa maneira de viver.
Uma vida de piedade é vivida em oração em secreto e isso deve guiá-lo diariamente; é uma vida de santidade diante de Abba, com coração entregue. Você entra em seu quarto, diante de Deus em seu altar pessoal e em oração você ganha poder para viver uma vida de santidade e também para levar essa vida às outras pessoas, ao Corpo de Cristo ou ao mundo. E. M. Bounds diz que “uma vida santa não é vivida em secreto, mas ela não subsistirá sem oração em secreto.” (E. M. Bounds. “Purpose in Prayer.”)
A prática da oração ou momentos de conversa com Abba deveria ser prioridade na vida de todo cristão, deveria ser aquilo para o qual ele (o cristão) mais se dedica. Oração é o ponto de partida de qualquer pessoa que queira se relacionar e ter comunhão com Deus; e como Davi, a oração deveria ser as primícias do nosso dia-a-dia dadas ao Senhor: “De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã Te apresento a minha oração e fico esperando.” (Sl 5.3)
Outra prática ou busca que faz parte dessa vida de piedade é a leitura, meditação ou estudo da Palavra de Deus. Deveríamos nos colocar diariamente, diante da Presença de Abba e lermos a Sua Palavra, permitindo que Ele fale ao nosso coração. A Bíblia nos mostra o sonho de Deus, a Sua história de amor com Seu povo e a humanidade; a Palavra escrita é o assunto de Deus, é o interesse Dele. Se quisermos ter comunhão com Ele, precisamos ter prazer naquilo que é de Seu interesse.
Haroldo Walker nos lembra que na eternidade não terá outra coisa se não o que interessa a Deus. Como poderemos ir e estar com Ele na eternidade se não gostamos do Seu assunto, do Seu interesse?
A Palavra do Senhor ou o Seu mandamento é ilimitado (Sl 119.96) e para o salmista era aquilo que iluminava os seus pés e os seus caminhos (Sl 119.105). O salmista sabia se colocar diante da Presença de Deus pedindo que o Senhor não lhe permitisse fugir de Seus mandamentos (Sl 119.10); ele sabia que para não pecar contra Deus era preciso guardar as Suas palavras em seu coração (Sl 119.11).
Enfim, a vida de piedade diante de Deus é capaz de mudar toda nossa maneira de viver, todas as nossas práticas e pensamentos. Toda a nossa mente é renovada diante da Presença do Senhor, quando nos colocamos em oração, busca pela Sua Presença e meditação da Sua Palavra.
Não tem como nos colocarmos diante do Senhor e permitirmo-nos ser envolvidos pela Sua Palavra e Sua Vida e continuarmos a viver e a caminhar da mesma maneira. Jesus Cristo é a Palavra de Deus (é o Verbo encarnado – Jo 1.1-2 e 14) e a imagem do Deus invisível (Cl 1.15). Todas as pessoas que tiveram contato direto com Cristo, de forma inevitável, tiveram as suas vidas transformadas e este é o maior milagre do Filho.
Ao vivermos essa vida, iremos querer que os outros vivam de igual forma; e, saiba, poderemos ir até eles, e com a graça de Deus, derramar da Sua vida aos que estão sedentos e em busca de Alguém que eles não conhecem. Em nós, eles conhecerão o amor e a compaixão do Filho.
Quando vivemos uma vida de piedade, diante de Deus, iremos transmiti-la aos outros. Não tem como reter essa vida dentro de nós ou em um mundo só nosso.
A vida de piedade é boa e aceitável diante de Deus, nosso Salvador (1 Tm 2.1-3). A piedade para tudo é proveitosa (1 Tm 4.7-9). A piedade com contentamento é grande fonte de lucro quando temos consciência de que não levaremos nada desse mundo (1 Tm 6.6-7). A piedade é algo a ser seguido (1 Tm 6.11). E por fim, é uma bem-aventurança (2 Tm 3.13 e Mt 5.10).
Coloque-se você também, meu irmão, diante de Deus em oração, leitura da Sua Palavra e permita-O transformar a sua vida. Você não se arrependerá.
Busque essa vida, meu irmão!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Evangelizai não com palavras

Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus.
(At 4.13)

A Igreja tem uma missão que muitas vezes é confundida. As pessoas falam muito do “ide” de Jesus, dizendo que devemos ir a toda criatura pregar o evangelho e se esquecem de fazer discípulos. Por que digo essas coisas? Porque a Igreja já está cheia de obstetras. Não há pediatras.
A Igreja ou o Corpo de Cristo precisa de pessoas que cuidem e façam discípulos e não que apenas preguem o evangelho e usem números para contar vantagem e se vangloriar e deixem essas pessoas sob os cuidados dos pastores locais apenas, a mercê da operação do erro, de Satanás e da religião.
Sem dúvida a pregação é importante, mas creio que a pregação do verdadeiro evangelho não consiste apenas em palavras ou dizeres. Só recitar versículos e ensinar as pessoas a repetir suas palavras ou de outrem como papagaios não salvos não adianta.
Argumentos não convencem ninguém. É necessário ter uma vida de piedade. É necessário ter uma vida de relacionamento com o Pai. Cristianismo é mudança de vida, de realidade, de mundo. É saber que nossa pátria não é aqui (Fp 3.20) e que não podemos ter nossas esperanças nesse mundo (1 Co 15.9).
Admiro-me ao ler essa passagem em que as pessoas ao verem a ousadia com que Pedro e João falavam perante o Sinédrio, foram capazes de reconhecer que ambos estiveram com Jesus. E creio que as pessoas, a Criação, hoje, estão na expectativa de olhar para a Igreja de Cristo e ver pessoas que realmente estiveram com Jesus. Ainda que não como os apóstolos que de fato andaram com Jesus no dia-a-dia, mas pessoas que O buscam e caminham com Ele e Sua Palavra diariamente.

Portanto, todos nós, com o rosto descoberto, refletimos como um espelho a Glória do Senhor. Aquela Glória vem do Senhor, que é o Espírito. Ela nos torna parecidos com o Senhor, e assim a nossa glória vai ficando cada vez maior. (2 Co 3.18)

A única maneira das pessoas realmente olharem para nós e verem algo de Jesus em nós é se nós estivermos em contato com Ele. Como espelhos que devemos ser, a refletir Sua Glória e Sua Vida, devemos estar em contato e diante Daquele que iremos refletir.
Max Lucado escreve em seu livro “Isto não é Para Mim” que enquanto mais perto e mais em contato estamos com o Pai, mais nos tornamos ou somos feitos parecidos com Ele. Por isso, refletimos como um espelho a Glória do Senhor, que nos torna parecidos com o Senhor. Será que podemos entender que precisamos estar em contato com Ele para que o mundo, ao clamar pelos filhos de Deus, nos encontre?
Sejamos nós como espelhos mudos, cujas ações valem mais do que palavras e o ser muito mais do que fazer; sejamos nós como espelhos limpos, que buscam uma vida de santidade para com Deus; sejamos nós como espelhos planos, cuja vida revela Jesus por sua irrepreensível diante dos homens; sejamos nós como espelhos iluminados, cujo brilho de Jesus, através de nós, chega a todos os que anseiam por encontrar o Salvador.

Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo,
tanto nos que são salvos como nos que se perdem. (2 Co 2.15)

E por fim, a nossa vida exala um perfume. Esse perfume é o cheiro de Cristo. Nós exalamos esse perfume para com os salvos e para com os que se perdem, ou seja, no meio de todas as pessoas, em qualquer lugar, temos que espalhar o perfume de Cristo.
As pessoas precisam sentir o cheiro de Jesus em nós, sempre. Temos que ter um cheiro diferente, algo diferente; isso tudo é fruto de uma vida de comunhão e relacionamento com Jesus.
O contato com o Filho de Aba, também nos inundará com o Seu cheiro, assim como a Sua vida abundante e a Sua luz que alumia as trevas. Se não tivermos contato com Jesus, com o Pai, por intermédio do Espírito Santo e da Sua Palavra, podemos querer fazer coisas e falar coisas e nada disso será o suficiente. Pregar e evangelizar sem estar em contato com o Pai apenas gera a morte. As pessoas e a Criação precisam de vida, a vida de Jesus que está em nosso cerne, quando nos voltamos para Ele. A vida do Espírito Santo dentro de nós.
Creio ser isso o que os apóstolos entenderam. Não basta apenas ir e pregar, é preciso também fazer discípulos, cuidar, dar apoio, estar junto. Nisso nasce o Corpo. Nisso vive o Corpo. Nisso consiste o Corpo. Teremos apenas obstetras? Ou buscaremos os pediatras de Deus, que cuidam dos pequenos, dos irmãos?
Termino com dois dizeres de São Francisco de Assis:

Por onde quer que forem, preguem, mas se preciso usem palavras.
É, pois uma grande vergonha para nós outros servos de Deus, terem os santos praticados tais obras, e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram.

terça-feira, 10 de março de 2009

O movimento da vida do cristão

Estive lendo algumas coisas que escrevi quando era mais novo. Não recordo a data em que escrevi. Mas algo mexeu dentro de meu coração com as poucas palavras que li.
O sistema conspira contra a vida cristã, contra a vida de Cristo nos homens. O capitalismo nos enche de ocupações e preocupações que fazem nossos olhos se desviarem de Aba e se voltarem para a sobrevivência e convivência com as outras pessoas.
Muitas vezes andamos ansiosos com as coisas que haveremos de comer e vestir, quando Jesus nos diz para confiar no Pai. Muitas vezes ficamos preocupados com a opinião dos homens, e procuramos fazer e ser o que não condiz com nosso verdadeiro eu, enquanto Cristo aponta para uma vida em que o que realmente importa é a vontade, o pensamento, de nosso Pai-Deus.
Enquanto o mundo e o sistema nos levam a pensar no futuro, o próprio Cristo, em Sua Palavra, nos incita a olharmos para o Hoje, consagrarmo-nos Hoje e nos movimentarmos a Deus Hoje. Não é amanhã. É no dia de Hoje. A cada dia – Hoje. Sempre Hoje. Hoje é dia de buscarmos ao Senhor e é sobre isso que quero falar.
Precisamos buscar o Deus que realiza o seu plano com a humanidade embasado em alianças. Deus é um Deus que Se relaciona com o ser humano e isso desde o início da história, desde o Gênesis. Javé é um Deus de Pactos. “Em iniciando alianças, Deus jamais entra em relação casual ou informal com o homem” (O. Palmer Robertson).
A vida de um cristão é marcada por essa movimentação em direção a Elohim. Ele entende a necessidade de Deus e o Seu desejo. Necessidade de Deus? Deus precisa de alguma coisa? Sim, Deus precisa de algo – Ele precisa do ser humano. É como John Wesley disse: Deus nada faz a não ser em resposta a oração. Deus precisa que o homem O busque e assim compreenda a Sua vontade e então ore para que a Sua vontade se cumpra na terra.
Por isso Cristo nos chama atenção para a santificação do dia de Hoje. Por isso ser cristão é marcado por esse dinamismo em direção a Deus. O cristão santifica o Hoje, sempre olhando para Jesus, buscando o Senhor, se voltando para Deus. Caçadores de Deus não é um livro de utopia, invenção – é a realidade do anseio do coração de Deus. Pessoas com o coração voltado para Deus sempre procuram o Senhor no seu dia-a-dia, nas pequenas coisas, nas situações.
“Nenhum ser humano vai além do deus que escolhe para si” (Marson Guedes). Se o teu deus é um objeto eletrônico, você procurará sempre estar por perto – achará tempo, mentirá para estar usufruindo desse objeto (quer seja televisão, vídeo-game, computador ou qualquer outra coisa). Agora, se Javé é Senhor de teu coração, então com certeza, você se voltará para Ele e esperará pelo momento de entrar no teu secreto para que o Pai que vê em secreto te recompense com Sua Presença (Mt 6.6).
Tenho aprendido que Deus e Sua Palavra têm poder para nos sustentar e nutrir a cada dia e justamente por isso, Ele é totalmente suficiente para o homem. Buscá-lO é mais do que uma característica do cristão, é uma necessidade. Se você é daqueles que apenas crê que Deus existe, então você é crente, mas se você sente necessidade de conhecer o Deus que você crê que existe e sente isso te incomodar diariamente, então você é cristão. Digo isso, pois Cristo tinha necessidade de sempre estar em oração diante do Pai – sempre ouvindo sobre o propósito pelo qual Ele estivera na terra, contemplando os feitos do Pai para poder faze a Sua vontade se cumprir na terra.

Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor [...] (Os 6.3)

Buscar-Me-eis e Me achareis quando Me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; [...] (Jr 29.13)

Buscar está relacionado diretamente a procurar, investigar, pesquisar. Quando Deus nos chama a buscá-lO, Ele quer isso de nós – que procuremos por Ele, investiguemos os lugares, pesquisemos os Seus feitos, conheçamo-lO. Creio piamente que Deus quer ser conhecido e deseja ser encontrado pelo ser humano. “Nós não somos um erro; nós fomos feitos com um propósito” (Cláudia Melo).
O pecado faz separação entre Deus e o homem. Deus sempre quis Se relacionar com o ser humano, como originalmente, antes do pecado (creio nisso!). O pecado apareceu! Fez separação! O véu foi colocado entre Deus e o homem! Cristo apareceu! Resolveu o problema! O véu que estava entre Deus e o homem foi rasgado! Aleluia!

[...] porque é tempo de buscar ao Senhor, até que Ele venha [...] (Os 10.12)

Disponde, pois, agora o coração e a alma para buscardes ao Senhor, vosso Deus (2 Cr 22.19a)

Ao meu coração me ocorre: Buscai a Minha Presença; buscarei, pois, Senhor, a Tua Presença. (Sl 27.8)

Você ainda tem dúvida de que Deus quer Se relacionar com você? Busque Deus, procure por Ele, encontre-O. Olhe para Javé e Sua Palavra, conheça-O. Olhe para Cristo, veja o Pai (Jo 14.9-10 e 17.26). Preste atenção nas pessoas e veja o Seu Espírito (Mt 25.40).

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Cristianismo e Falsa Religiosidade

A religião pura e sem mácula para com o nosso Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se incontaminado do mundo. (Tg 1.27)

As pessoas vão às igrejas, ouvem a palavra maravilhosa do pregador e quando este faz o apelo, elas vão a frente de todos, fazem uma oração e pronto, já são convertidas (pois aceitaram e confessaram Jesus como Único Senhor e Salvador de suas vidas) e já estão salvas. Porém, com o tempo tudo volta a ser como antes daquele momento. Muitos após, o batismo, abandonam a igreja e a comunhão dos irmãos voltando para suas vidas desregradas, cheia de vícios e de um vazio descomunal.
Gostaria de entender o porquê isso acontece tanto no meio do povo de Deus. As pessoas chegam e vão embora e parece que nada acontece naqueles que estão ao redor ou nessas pessoas em si. Parece que as pessoas não conseguem vislumbrar a verdadeira religião, o verdadeiro Cristo que é capaz de religar a humanidade a Deus.
Sem dúvida alguma, a verdadeira religião ou Cristianismo está fundamentado numa experiência pessoal e real com o próprio Cristo ressurreto. Ele te chama, pela Sua escandalosa graça, e você então O encontra. Ele te recebe (não te aceita, mas te recebe) e então o Seu Espírito Santo começa a marcar, transformar e mexer com sua vida e estrutura.
O Espírito Santo age diariamente na vida dos Filhos de Deus, pois estes são guiados por Ele (Rm 8.14). É necessário sermos marcados por Deus; para isso, precisamos encontrá-lO e para encontrá-lO, precisamos procurar, ao menos. É necessário dependência de Deus.
Cristianismo vem nos falar de Cristo. Ele é o Foco. Ele é a Base. Sua vida e Suas verdades, ditas, são aquilo em que devemos, como cristãos, nos apoiar. Cristão tem a ver com “pequenos cristos” ou pessoas que lembrem Cristo, que apontem para Ele. Cristão é uma identidade e identidade não tem a ver com apenas palavras, falatório vão, mas com o que realmente somos.
Olhe para suas digitais. Elas falam quem é você. Apenas pelo rastro delas, pela marca que fica onde você toca, onde você coloca suas mãos, é possível descobrir que você esteve e fez algo. É isso! Quando pensamos em mãos, pensamos em feitos, em obras. O que você faz tem tudo a ver com sua identidade. É perceptível. É visível. O que você faz tem a ver com sua identidade e não o que você fala. Talvez por isso Tiago tenha escrito: “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” (Tg 1.19b) Tiago prossegue:

Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural, pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. (Tg 1.21-23)

Tiago nos diz para estarmos prontos para ouvir e depois ele nos diz para não somente ouvirmos, mas praticarmos. Quando ouvimos, não há dúvida de que a palavra que ouvimos entra em nós, por mais que não caia em nosso coração ou nos marque de imediato. Precisamos ouvir a palavra de Deus (a fé vem pelo ouvir – Rm 10.17) e então praticá-la, porque o que fazemos tem a ver com o que somos.
Quando somos apenas ouvintes, nos assemelhamos ao homem que se contempla no espelho e se retira e logo não se lembra de sua aparência. Ele apenas ouvi, nada faz, nada pratica, não se recorda de quem ele é. Podemos concluir que o praticante é o contrário. Ele sabe quem ele é, ou ele se recorda de sua aparência, pois não é apenas ouvinte. A prática está diretamente ligada ao que somos e vice-versa.
Cristianismo é isso. Nós encontramos Jesus, a Palavra e o Seu Espírito em nós, junto com a palavra e, creio ser necessário, o Corpo ou o sangue (as três testemunhas que testificam na terra, o Espírito, a água e o sangue - 1 Jo 5.8) e isso transforma a nossa vida. Nosso pensamento muda, se renova, e por conseqüência nossas atitudes são diferentes, também marcadas pelo Espírito. Jesus, então, é percebido em nós. O Seu perfume, a Sua Pessoa e Sua Vida.

Mas, aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.
Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. (Tg 1.25-26)

Precisamos cuidar de nossa língua irmãos, para não falarmos a nosso respeito mais do que somos, não nos vangloriarmos do que não somos capazes de fazer. É um engano pensar que podemos ser cristãos e sermos independentes. Maldita independência! Queremos ser autônomos e fazermos as coisas por nós mesmos, sem Deus e sem as pessoas. Não tem como! Falsa religiosidade é isso – dizermos muito mais de nós do que realmente somos. Assim, nos enganamos.
Volto a dizer que Cristianismo tem a ver com o que realmente somos e não com o que fazemos; e falsa religiosidade nos impulsiona a fazermos ou dizermos aquilo que não somos. Não é algo natural, que parte de dentro de nós, mas é algo exterior. São atitudes que tomamos para parecermos algo que somos, para parecermos espirituais.
Os fariseus eram assim. “Eu não sou como esse pecador”, diziam e diziam o que não eram. Enganavam-se. Experimentar da verdadeira religião que nos move para Deus e para os outros, suas necessidades, é caminho de graça. Dom de Deus! É verdadeiro Jejum (Is 58.6-7).
O ser cristão nos leva a ter atitudes de cristão. O ser nos leva ao fazer. O encontro com Deus e Sua graça e Seu Espírito agindo em nosso íntimo diariamente nos leva a fazer coisas para Ele e os outros. Só somos capazes de negar a nossa carne e morrer para nós mesmos através desse agir. Chega de independência, irmão! Chega de falsa religiosidade!

E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na Sua Própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2 Co 3.18)

E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido, outrora, não me interessa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me acrescentaram; (Gl 2.6)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

David Brainerd

Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. (2 Co 12.15a)

Um jovem, de aparência fraca, franzino de corpo, frágil, mas em que seu interior ardia o fogo do amor por Deus e pelas almas. Orlando Boyer, em seu livro Heróis da Fé, apresenta uma cena da história desse jovem, que me marcou profundamente:

[...] encontrou-se na floresta, para ele desconhecida. Era tarde e o sol já declinava até quase desaparecer no horizonte, quando o viajante, enfadado da longa viagem, avistou a fumaça das fogueiras dos índios peles-vermelhas. Depois de apear e amarrar seu cavalo, deitou-se no chão para passar a noite, agonizando em oração. Sem ele o saber, alguns dos silvícolas o haviam seguido silenciosamente, como serpentes, durante a tarde. Agora estacionavam atrás dos troncos das árvores para contemplar a cena misteriosa de um vulto de cara pálida, sozinho, prostrado no chão clamando a Deus.

Nesse momento de sua vida, David Brainerd, se coloca diante de Deus, agonizando em oração pelos selvagens que o seguiam e que estavam na aldeia. Ele agoniza, transpira morte, enquanto intercede pela vida dos índios peles-vermelhas. Fico profundamente marcado com a vida desse jovem, em seu derramar de si mesmo no altar de Deus pelas almas.
Agonizar implica em ânsia de morte, estar moribundo ou a acabar, estar morrendo. Estar diante de Deus em oração e intercessão, agonizando? Como pode ser isso? Esse é um dos motivos porque a vida desse jovem me marca profundamente.
“Oh! Uma hora com Deus excede infinitamente todos os prazeres do mundo”, dizia David Brainerd. Esse jovem era um homem de oração; que não media limites nem perdas para estar mais próximo de Deus, mais inclinado no peito do Filho. Mesmo estando desanimado, em certo momento, mas experimentou do “Grande Avivamento” dessa época que tinha alcançado a cidade de New Haven, onde David estudava.
O avivamento alcançou seu coração e sua dedicação aumentou ainda mais. Aumentou porque mesmo antes, ele assim como muitos dos outros heróis da fé que o antecederam e precederam, cria nas boas obras. Dedicava-se a oração e meditação na Palavra, como parte dessas boas obras. Após o avivamento ter alcançado seu coração, o que David mais queria era estar pronto para o ministério.

“Passei o dia em jejum e oração, implorando que Deus me preparasse para o ministério, me concedesse auxílio divino e direção, e me enviasse para a seara no dia designado por Ele.”

Sua dedicação a Deus e desejo de ser usado e fazer Sua obra são totalmente admiráveis. Seu desejo era o de ver a salvação daqueles selvagens, os quais Orlando Boyer afirma que eram silvícolas violentos. De acordo com Boyer, Deus concede a Brainerd a entrada no meio desse povo, de forma hospitaleira, após ele se derramar em meio em oração pela vida desses índios.
Ele queria entrar no meio deles, pregar, falar da salvação em Cristo. Brainerd amou este povo, de forma a me lembrar da vida do profeta Jeremias, que amava o seu povo – “Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo.” (Jr 9.1).

“Assim, passei a tarde orando incessantemente, pedindo o auxílio divino para que eu não confiasse em mim mesmo. O que experimentei, enquanto orava, foi maravilhoso, parecia-me que não havia nada de importância em mim, a não ser a santidade de coração e vida, e o anelo pela conversão dos pagãos a Deus.”

E ainda...

“Passei a maior parte do dia em oração, pedindo que o Espírito fosse derramado sobre o meu povo... Orei e louvei com grande ousadia, sentindo grande peso pela salvação das preciosas almas.”

De fato, aquele era o seu povo e por eles ele se dedicou a Deus. Orou. Jejuou. Pregou e instou a Palavra de Deus “a tempo e fora de tempo”. Não confiou em si mesmo, antes se entregava em confiança no auxílio divino. Mesmo estando para se casar com a filha de Jonathan Edwards, não parou de se dedicar a esta causa. Andava inúmeras vezes perdido na noite, tomando chuva e passando por florestas e pântanos. Outras inúmeras vezes ficava debaixo do sol quente, atravessando montanhas. Passou frio. Por vários dias, passava fome.
Sua saúde já estava abalada, mas ainda assim não hesitou. Antes resolveu “arder até o fim” em dedicação, em agonia e compaixão pela vida dos índios.

“Adeus, amigos e confortos terrestres, mesmo os mais anelados de todos. Se o Senhor quiser, gastarei a minha vida, até os últimos momentos, em cavernas e covas da terra, se isso servir para o progresso do reino de Cristo.”

“Continuarei lutando com Deus em oração pelo rebanho aqui e, especialmente, pelos índios em outros lugares, até a hora de deitar-me. Oh! Como senti ser obrigado a gastar o tempo dormindo! Anelava ser uma chama de fogo, constantemente ardendo no serviço divino e edificando o reino de Deus, até o último momento, o momento de morrer”

Suas forças já estavam totalmente esgotas e ele apenas esperava pelo Senhor, para que o levasse. Em seu leito, ao ver alguém se aproximar com as Sagradas Escrituras, exclamou: “Oh! O querido Livro! Breve hei de vê-lo aberto. Os seus mistérios me serão então desvendados!”.
E ainda assim, esse jovem admirável, foi capaz de escrever para o seu irmão Israel Brainerd: “Digo, agora, morrendo, que não teria gasto a minha vida de outra forma, nem por tudo o que há no mundo”. Sua dedicação, devoção e compaixão é o que nós, jovens, precisamos para os dias de hoje.